Sem-abrigo vive debaixo da ponte e vai ser despejado

João Dias, 47 anos, operário da construção civil, vive desde o verão debaixo da ponte de Lanheses, em Viana do Castelo. Há dias, foi confrontado com a ameaça de despejo.

João Dias construiu uma barraca sobre a terra batida, com estacas de madeira, cobertas com plásticos pretos. Lá dentro, recolhe-se numa tenda de campismo, instalada sobre um estrado de madeira, levantado por estacaria acima de cerca de meio metro do chão, que por estes dias está transformado num charco de lama.

As chuvas de inverno trouxeram-lhe a água para ao pé da porta. Dois cães, Nico e Pintinhas, guardam-lhe “a casa”, onde fez questão de colocar duas janelas, meramente decorativas. Há dias, foi confrontado com a ameaça de despejo. A pedido da Infraestruturas de Portugal (IP), a GNR identificou-o.

“Foi enviado um ofício para o posto de Lanheses para identificar um indivíduo que se encontra a ocupar um espaço debaixo da ponte na freguesia de Geraz do Lima. Foi identificado e deverá ser notificado pela IP para sair. Se não sair, deverá ser o tribunal a dar ordem de despejo. Em princípio, será esse o procedimento”, confirmou, ao JN, fonte da GNR de Viana do Castelo.

“Se me puserem daqui para fora, é para eu fazer uma loucura. Para onde é que vou se tenho aqui as minhas coisinhas todas?”, lamenta João Dias, referindo ter “quase nada” para a sua sobrevivência. “Vivo com 170 euros do RSI e à custa das esmolas, cobertores e roupas que me dão”.

Segundo a GNR, João Dias “viveu em Vila de Punhe. Após a morte da mulher, andou de freguesia em freguesia até acampar debaixo da ponte”. Recentemente, uma instituição do concelho de Viana do Castelo disponibilizou-se para o ajudar, mas ele “recusou apoio social”.

João argumenta: “Era numa associação de dependências. Não sou dependente, prefiro morrer na rua do que ir para essas casas”, E entre riso e choro descompensados, apela: “Podiam-me arranjar uma casa social, com água e com luz”.

O caso sensibilizou Luís Lima, 75 anos, habitante de Geraz do Lima e pai de sete filhos. “Tive um tio que viveu numa situação destas. Quando soube, vim ajudar. Ajudar a levantar a cama. Com a chuva, a água subiu muito”, conta.

Fonte e Foto: JN