Antigo guarda-redes do Sporting testemunhou via “Skype” diretamente de Inglaterra.
Rui Patrício recorda as ameaças que foi alvo no ataque a Alcochete, a 15 de maio. O guarda-redes foi um dos mais visados pelos invasores e prestou declarações, esta segunda-feira, através de “Skype”, diretamente de Inglaterra.
“Dirigiram-se para o William Carvalho, tentei separá-lo. Eu pedi calma, juntaram-se à nossa frente, disseram para tirarmos a camisola, que éramos uma vergonha e que não merecíamos a camisola. Um agarrou-me o braço e tentou torcer. Disse: ‘Estás aqui? Estás a rir? Queres ir embora? Parto-te a boca toda”, recordou.
O atual guarda-redes do Wolverhampton recordou o momento em que os invasores entraram pelo balneário.
“Quando abrem a porta do balneário começaram a entrar uns atrás dos outros, entraram e começaram a agredir toda a gente, entraram com muita agressividade. Eles vinham com tudo, eu não sei se vinham para matar mas da forma que entraram”, disse.
Patrício acredita que o presidente Bruno de Carvalho tentou virar os adeptos conta a equipa. O guardião recorda uma reunião entre plantel e direção após uma derrota contra o Atlético de Madrid.
“Bruno de Carvalho tinha imagem forte com os adeptos e impacto neles. Sei que o William tinha dito que o presidente tinha mandado partir os nossos carros. Falou disso na reunião e ele negou. Não sei que relacionamento tinham. Mas Bruno de Carvalho e Mustafá conheciam-se. O que Bruno disse na reunião foi que se fosse para agredir alguém, não precisava de ninguém. Na reunião, o Bruno de Carvalho ligou ao Mustafá a perguntar se tinha mandado agredir ou partir os carros e o Mustafá disse que não”, começa por contar.
O guarda-redes, que fez 467 jogos na equipa principal do Sporting, recorda também o dia após a última jornada do campeonato, que ditou o afastamento do Sporting da participação na Liga dos Campeões.
“Após jogo da Madeira, no dia seguinte, houve reunião com administração e Bruno de Carvalho teve um comportamento completamente diferente, num tom mais calmo. No fim ainda disse ‘somos uma família. Estou aqui para vocês. Algum problema falem com o Geraldes ou liguem para mim. Acuña porque fizeste isso e logo ao chefe da claque? Agora tenho um problema tremendo para resolver. Aconteça o que acontecer, quero que estejam bem para a final da Taça’. No mesmo dia houve uma segunda reunião. Foi Jesus que avisou que o presidente vinha pedir desculpa. Essa reunião acabou com ele a retirar a suspensão, a dizer ao mister que podia convocar quem quisesse, mas os processos disciplinares continuavam”, recorda.
Contexto do caso do ataque a Alcochete
A 15 de maio de 2018, um grupo de cerca de 40 indivíduos encapuzados, da claque Juventude Leonina, invadiram a Academia do Sporting, em Alcochete, e agrediram jogadores, staff e membros da equipa técnica.
Bruno de Carvalho, ex-presidente do clube, Mustafá, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem, ainda, por um crime de detenção de arma proibida agravado. Mustafá está acusado de um crime de tráfico de estupefacientes, segundo a a acusação do Ministério Público (MP).
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o MP imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Estes 41 arguidos vão responder, ainda, por dois crimes de dano com violência, por um crime de detenção de arma proibida agravado e por um crime de introdução em lugar vedado ao público.
RR