A atriz Maria João Luís está desde há duas semanas no concelho de Cantanhede a dirigir a rodagem de “A Hora dos Lobos”, uma adaptação de Mário Cunha do romance “Alcateia”, de Carlos de Oliveira, um dos mais proeminentes vultos literários do século XX, cujas raízes familiares têm origem em Febres, onde viveu durante alguns anos da infância e juventude. Esta produção da Ukbar Filmes e da RTP1, em coprodução com a Krakow Film Klaster, da Polónia, tem o apoio da autarquia cantanhedense, no âmbito das ações que estão a ser desencadeadas para assinalar o centenário do nascimento do escritor (10 de agosto de 1921). Isto porque “o telefilme favorece o acesso ao universo literário de Carlos Oliveira e o reconhecimento do concelho de Cantanhede como território preferencial da sua obra, processo em que a Câmara Municipal está empenhada desde há muitos anos”.
“A Hora dos Lobos” faz parte de um pacote de 10 telefilmes que até ao final do mês de agosto serão filmados em diversos locais da Região Centro e que começarão a chegar aos écrans no último trimestre deste ano. Trata-se do projeto “Contado por Mulheres”, a nova aposta audiovisual da Ukbar Filmes e da RTP1, a partir de um “desafio lançado para o efeito a dez realizadoras com talento reconhecido nas áreas do cinema, do teatro, da dança ou da publicidade”, pode ler-se na nota de apresentação.
Sobre a filmagem no concelho de Cantanhede, Maria João Luís diz estar bastante agradada com a experiência que está a viver “nesta extraordinária região onde a equipa foi extremamente bem recebida e apoiada na concretização do projeto. Quando fui desafiada a participar como realizadora e me apresentaram a lista de livros a adaptar, escolhi de imediato a ‘Alcateia’, de Carlos de Oliveira, um autor de que gosto muito e que já representei e encenei no teatro”, refere a atriz. “Espero que gostem do trabalho que estamos aqui a desenvolver”, conclui.
Quem também está a “gostar imenso de filmar no concelho de Cantanhede” é Mariana Monteiro, que se manifesta “encantada com a oportunidade de descobrir este recanto do nosso país, que não conhecia e que tem locais muito cinematográficos. Acima de tudo, é muito tocante a simpatia das pessoas, o calor com que nos acolheram que vai ficar na minha memória”, diz a protagonista do telefilme que conta no elenco com outros nomes consagrados da representação, como João Nunes Monteiro, Vítor Correia, Almeno Gonçalves, Sérgio Gomes, Pedro Moldão, Sílvia Figueiredo, António Simão, Vítor Oliveira, Paulo Manso, Lucinda Loureiro, Graciano Dias, Hélder Agapito.
Os locais de filmagem e os décors têm variado entre Cantanhede, Ançã, Praia da Tocha e Pocariça, sendo de assinalar a participação de mais de uma centena de figurantes, a maioria recrutados em associações com alguma tradição nas artes de palco.
Além da Câmara Municipal, a produção contou com o apoio das Juntas de Freguesia de Cantanhede e Pocariça, Ançã e Tocha, Inova-EM, Bombeiros Voluntários de Cantanhede, Grupo Folclórico Cancioneiro de Cantanhede, Rancho Regional “Os Esticadinhos” de Cantanhede, Santa Casa da Misericórdia de Cantanhede, Grupo Típico de Ançã, Associação de Moradores da Praia da Tocha, a empresa “Stolt Sea Farm”, da Praia da Tocha, e ainda alguns particulares que cederam casas e adereços de índole diversa.
A sinopse de “A Hora dos Lobos” refere: “Leandro é um pescador que leva uma vida honesta até ao dia em que mata um homem que abusa da sua filha. Obrigado a fugir, deambula pelos campos até ser acolhido por João Santeiro, o velho líder de uma quadrilha de ladrões. Leandro adere ao grupo e tenta amealhar dinheiro para fugir para o Brasil. Mas quando o administrador da região oferece uma recompensa pela captura da quadrilha, o sentido de justiça de Leandro volta a ser posto à prova”.
Sobre Carlos Oliveira
Considerado uma das maiores referências do movimento neorrealista, mas que extravasou claramente o cânone desse movimento, Carlos de Oliveira é um escritor aclamado nacional e internacionalmente pela qualidade literária de uma obra traduzida em várias línguas e que colocou a Gândara em posição de destaque na História da Literatura. Segundo os especialistas, essa região litoral dos municípios de Cantanhede e Mira surge como “a raiz, o cerne e a substância do próprio discurso literário e não apenas como simples contexto geográfico da narrativa”.
Antes de ingressar na faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o autor de “Uma Abelha na Chuva” e “Finisterra. Paisagem e Povoamento” viveu no concelho de Cantanhede, inicialmente na Camarneira e depois em Febres, onde o seu pai exerceu medicina durante muitos anos, precisamente na casa que é atualmente um equipamento cultural dedicado à dinamização de atividades em torno da vida e obra do escritor.
Além do investimento nesse equipamento cultural, a Câmara Municipal de Cantanhede instituiu o prémio literário Carlos de Oliveira, que tem este ano a sua sexta edição, estando nesta altura já agendadas várias iniciativas para assinalar o centenário do nascimento do escritor (10 de agosto de 1921), que se comemora este ano.