Nome: Rosa Fonseca
Profissão: Professora de Educação Especial Rosa Fonseca nasceu em Aveiro, onde vive e trabalha como professora de Educação Especial na Escola Secundária José Estevão.
JM. – Como define o “ser humano “Rosa Fonseca?
RF. Rosa Fonseca é uma alma inquieta em busca de si mesma…atenta ao mundo, é na contrariedade que encontra forças para sobreviver a tanto desassossego social/cultural…
Rosa Fonseca é um ser humano em tudo semelhante ao outro, reafirmando na sua pessoa a humildade, persistência, lealdade e generosidade.
JM. – Conta-nos como surgiu a poesia na sua vida?
RF. A poesia nasceu e desenvolveu-se muito naturalmente, como se nunca estivesse fora de mim… Escrevi sempre muito…e em períodos de maior reflexão… É assim que a entendo sempre muito aconchegada a mim, como o meio mais elevado de comunicação de sentires, de emoções… é a essência dos afetos. Escrevo o que está retraído em muitos de nós…
A poesia é o confronto entre o EU e o mundo, é assim que a sinto, por isso vai surgindo ora explosiva ora mansa… Escrevo desde muito nova … ”escrevinhava” em cadernos que se perderam ao longo dos anos. Por isso a poesia está intrínseca a mim.
JM. – Já tem algum trabalho editado, ou esse será um dos seus futuros objetivos?
RF. “Entre a alma e o mar”, foi o 1º livro, editado em dezembro de 2012. Este livro, “Entre a alma e o mar”, é de alguma forma, intimista. Alguns textos em prosa poética, “falam” de emoções e vivências, fragmentos de “mim” a (re) construírem um caminho de travessia…
Muitos dos poemas são ainda, clamores e sorrisos a muitos dos que “caminhando comigo, estão na minha vida”.
Entrei em quatro colectâneas. Nomeadamente, Erotismus-Apelos e Impulsos, Essência dos Sentidos I, Essência dos Sentidos II e Contigo, para sempre, as mais bonitas histórias de amor.
E em maio sairá o 2º livro, “Demora-te nos meus olhos”, um livro que me encaminha a “visitar-me noutra morada”, escrevo nele, o mapa emocional que nos entrelaçam à vida…mais uma vez, imprimo nas palavras, o grito da alma que muitos calam…
JM. – A cultura em Portugal – em particular, a escrita – recomenda-se? O que falta para crescer mais?
RF- Temos de ser optimistas, claro q estamos num período mais complicado mas há q ter esperança..
Para crescer mais, falta ser mais acessível a todos , passar por uma maior divulgação nos meios de comunicação; as bibliotecas itinerantes q existiam eram uma boa opção agora temos os livros digitais temos de evoluir…e chegam rapidamente a todo o mundo..
JM. – Qual o poeta com que se identifica, e qual aconselharia ler aos leitores?
RF. Ninguém pode almejar a ser poeta, ou escrever poesia se não se encontrar noutros poetas…as palavras estão inventadas, depois cada um reinventa o lugar de cada uma e constrói a sua poesia com a sua própria vida…o que eu chamo de inquietação e inconformismo. Mas é a sabedoria que nos dá a verdadeira poesia… e aqui, a sabedoria bebo-a dos poetas que leio e da vida que vou construindo…
Respondendo à sua pergunta, são muitos os poetas que leio, aconselhar é mais difícil…mas começar sempre pelos grandes poetas portugueses, sem dúvida.
JM. – Muitos têm a opinião de que os meios de comunicação de massa “distorcem” as mentes das pessoas. Concorda com esta opinião? Se sim, o que julga ser necessário mudar para as coisas melhorarem nesse sentido?
RF. A comunicação social tem o seu papel específico e definido, como tal cabe a cada um de nós, filtrar a informação, absorver dela com nitidez analítica a melhor compreensão da notícia. Nunca a comunicação pode “distorcer” as mentes…
JM. – Se pudesse ser ministro da cultura deste país, quais seriam as ideias que procuraria pôr em prática durante o seu mandato?
RF. (riso)…Nenhum país leva a sério um artista, muito menos alguém a escrever poesia, alguém que idealiza um mundo melhor e vê a arte como expressão máxima da liberdade, não pode ser Ministro quem sente o mundo como seu único palco de “poder”…Mas a ser possível no campo dos sonhos, a grande ideia seria a coesão das várias vertentes artísticas e implementar uma disciplina nas escolas, Educação para a Cultura. Logo na primeira infância e com continuidade ao longo do percurso escolar do aluno.
JM. – A crise anda aí – todos o sabemos – de quem é a culpa, em sua opinião?
RF. A crise é global e cíclica e está instalada, sem dúvida. Se pensarmos em culpa, ela morre sempre solteira, repisar em encontrar culpados, não me parece ser uma mola que faça avançar…Neste momento é preciso levantar a cabeça e caminhar, remar até bom porto. Eu acredito e aqui, até a poesia ajuda…pela sua irreverência e força.
JM. – Há “remédios” mais eficazes que os que estão a ser usados para a crise?
RF- Poderão sempre existir outros “remédios” mas todos têm efeitos colaterais… infelizmente ainda não há, um “ remédio “sem provocar danos…
JM. – A vida que levamos atualmente pode ser contada em ritmo de samba, ou não passa de uma “tragédia grega”?
RF- Viver esta “tragédia grega” ao ritmo do samba é sem dúvida uma grande sabedoria e parece que temos vindo a fazer isso.
JN – Poderia divulgar o poema da sua autoria com que mais se identifica?
RF- Deixo dois poemas
Proíbem-me as palavras
Julgam-me os sonhos
Cidade escura
Palavras no chão
Pisadas
Desfeitas…
Um medo apertado na mão…
Ruas muradas
Ladeadas de escuridão
Um tédio que mora em todas as janelas
E no meu olhar também…
Permaneço vazio
Condoído de uma denúncia por fazer
Desertaram todas as palavras
Proíbem-me os sentidos
Os passos
A decência…
Um gesto apertado na mão…
Grita o silêncio na franja do medo
Espalha-se a saliva contra o lamento
Proíbem-me um olhar
Uma lágrima
E a esperança também…
A liberdade não!
Rosa Fonseca, in “Demora-te nos meus olhos”
Rosas rubras
Reacendo no peito a chama
Deste fogo ardente que se solta
Ao ritmo da dança sussurrante
Das palavras na tua boca
Possuídas de volúpia
Desperto suplícios de outras marés…
Navego nas ondas dos teus cabelos
E deslizo mansamente nas areias quentes
Que o teu corpo oculta
A caminho do vértice
De rosas rubras
Prontas a desfolharem-se
Para mim… até à minha boca ávida
E devorar o odor
Dos corpos lascivos
Pele amarrotada de prazer
No êxtase de corpos Ateados…
Rosa Fonseca, in “Entre a alma e o mar”
RF- Obrigada por apoiarem quem escreve, neste momento quem o faz,é gente de coragem!