Equipas de médicos reduzidas, tempos de espera maiores e dificuldade em determinados exames estão entre as razões para o aumento
O estudo apresentado no final do ano passado na Conferência Nacional de Economia da Saúde, revela que a probabilidade de morte ao fim de semana é 3,2% mais alta do que durante a semana, havendo também um prolongamento dos dias de internamento. A autora, Inês Funenga, fez esta investigação no âmbito de um mestrado na Escola Nacional de Saúde Pública. E avaliou mais de 200 mil episódios urgentes que levaram a internamento nos hospitais em 2012 (não havendo dados mais recentes). Para a análise foram avaliados os episódios em 36 doenças, responsáveis pelo maior número de mortes e de internamentos nos hospitais públicos.
Entre as doenças com maiores taxas de mortalidade ao fim de semana e com maior tempo de internamento estão cancros do sistema respiratório e digestivo, mas também as hemorragias intracerebrais.
Inês Funenga explica que há uma taxa de mortalidade superior ao fim de semana, de 16,3% contra 15,8%, mas depois de ajustada face a variáveis como a idade, sexo, tipo de tratamento e diagnóstico, conclui que havia um risco aumentado ao fim de semana de 3,2%”. Este efeito já tinha sido confirmado num estudo de 2008, que incidia nas mortes evitáveis. Mas não foi encontrado um risco superior comparando as admissões de noite e dia.
Em termos de internamento, o fenómeno foi visível quer de noite, quer ao fim de semana. “Vimos que mais de metade dos internamentos têm uma demora acima de sete dias. Durante a semana, à noite, havia um risco acrescido de 2,9% de a demora ser superior à registada nas admissões durante o dia. Ao fim de semana o risco subia para 3%. “São resultados que afetam a satisfação do doente, têm riscos maiores de se exporem a infeções”, exemplifica. O estado de saúde pode agravar-se e acarretar maiores custos.
Faltam especialistas e exames
Nesta tese admite-se a hipótese de a severidade da doença poder explicar parte do efeito fim de semana. Aqui não foi analisada apenas a existência de comorbilidades (outras doenças), mas também uma forma de analisar a severidade.
Mas há outros fatores. Admite-se “uma variação na qualidade dos serviços”. Há falta de recursos humanos ao fim de semana, muitas vezes não só de enfermeiros e médicos, mas técnicos, assistentes sociais ou administrativos. Até o facto de estarem em número menor acarreta maior risco de exaustão e ocorrência de erros.
Um problema muito frequente nos hospitais é também abordado: A elaboração de equipas nestes períodos por vezes é feita à custa do trabalho de médicos internos, nem sempre com a supervisão adequada, como tem denunciado a Ordem dos Médicos, o que só por si também contribui para um risco maior.
Além dos recursos humanos é conhecida a falta de alguns serviços: exames, análises ou tratamentos de reabilitação, por vezes oferecidos apenas à semana. “Os doentes podem ter de esperar porque há menos equipas e meios, podem aguardar na urgência para serem internados ou sair das enfermarias para o bloco”, diz Inês Funenga.
O economista Pedro Pita Barros recordou recentemente alguns estudos sobre este tema no seu blogue, relacionando-o com o caso das mortes por rutura de aneurismas no São José. “O caso concreto que esteve na base da atual discussão é um exemplo dramático do que tem sido chamado efeito de fim de semana”, refere, recordando que o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, reconheceu que este caso “incompreensível” se deveu não só a cortes, mas a falta de organização, agora em estudo.
José Manuel Silva, o bastonário da Ordem dos Médicos, diz que o “desejável era que os serviços funcionassem 24 sobre 24 horas com equipas completas, para reduzir o risco de mortalidade”. Uma solução em curso no Reino Unido. Inês Funenga sugere estudos “nos vários serviços e hospitais, já que nem todos têm os mesmos problemas”.
Fonte: DN