Ala Arriba, Touring, Domus Nostra (futsal), Beira Mar e Calvão: este foi o percurso feito como futebolista por Ricardo Lavrador que, aos 31 anos de idade dará, muito em breve, o grande salto, indo treinar na China.
Formado em Treino Desportivo com Especialização em Futebol, este conhecido sportinguista de Mira (uma herança familiar) que deixou a prática como atleta para treinar os jovens do Calvão, recebeu um convite que considera como “irrecusável” e vai treinar/formar jogadores em Meizhou, que fica no longínquo sul chinês, na Província de Guangdong.
Esta equipa, que milita na segunda divisão chinesa está, por força da nova lei do futebol daquele país, a organizar a sua formação… e foi este o motivo do convite recebido: Marco Santos (treinador principal), Bruno Roda (treinador de guarda-redes) e Ricardo Lavrador (treinador adjunto) terão como tarefa organizar uma academia com jogadores dos 8 aos 11 anos, dando-lhes uma nova perspectiva sobre o que é o futebol.
Marco Santos e Ricardo Lavrador têm um modelo de jogo em mente e ideias que são comuns a ambos, o que ajudará sobremaneira a tarefa de cada um. Ambos sabem que “será preciso formar bem os miúdos chineses… o paradigma da ideia atual deles deve ser mudado” – diz Ricardo.
Selecionar jogadores, treiná-los, formar treinadores, coordenar o futebol do clube, são algumas das muitas funções que terão de exercer desde o primeiro dia em que chegarem àquela que é considerada, atualmente, “a cidade do futebol chinês”, uma vez que aquela localidade que conta 4 milhões de habitantes tem “já enraizada” a presença do futebol. Talvez, este seja um bom handcap inicial…
Apesar da “enorme diferença cultural, que obriga a uma necessária, o mais curta possível, adaptação”, Ricardo considerou como “extremamente fácil” a necessária decisão aquando do convite. “Muito vantajosa financeiramente, esta oportunidade também abre novas perspectivas a nível de currículo”. Mas, como nem tudo são rosas, as duas filhas, a esposa, os pais e restante família terão de ficar por cá, o que implicará numa tremenda necessidade de todos suportarem as saudades a que este projeto aliciante, obriga.
Ricardo Lavrador é, acima de tudo, um homem pragmático nas suas considerações sobre a profissão que, orgulhosamente, escolheu para si. “Vou realizar um sonho… o sonho de viver do futebol e pelo futebol… respirá-lo 24 horas por dia e sei que, por isso, nada será como dantes!” Para este jovem que conhecerá um novo rumo na sua vida, “treinar em Portugal é, muitas vezes uma utopia. É muito difícil viver do futebol em Portugal, pois pagam pessimamente a grande maioria dos treinadores e nem sequer dão tempo a eles para implantarem suas ideias: ou ganhas logo ou a porta da rua fica logo entreaberta!” – desabafa, para depois assumir perante à questão que lhe é colocada, que “trabalhar em Inglaterra é o sonho de qualquer treinador que tenha o mínimo de ambição. Ali respira-se o futebol total, vive-se intensamente o futebol e tudo o que está à volta deste desporto que move, não milhões, mas bilhões de seres humanos, seja de que forma for!”
Prometendo a si próprio que estará “permanentemente focado nos objetivos para não ter oportunidade de entrar em depressão por causa das saudades”, Ricardo pretende aproveitar algum tempo disponível para conhecer a cultura milenar com a qual terá de cruzar diariamente e a todo instante: “uma coisa é certa: temos de nos adaptar e aceitar o facto de que estaremos na terra deles”.
Tendo decidido aos treze anos de idade que queria seguir o caminho de treinador, Ricardo Lavrador tornou-se um estudioso da matéria, em todas as suas vertentes. Para ele, “existe um Antes e um Depois de Mourinho que, não reinventando nada, trouxe uma maneira revolucionária de vivenciarmos o futebol”.
Carlos Queirós, Jesualdo ferreira, Nelo Vigada… estes também são nomes que Ricardo utiliza para referenciar como bons exemplos no futebol português. Mas, para ele, há nomes que lhes dizem muito: foram treinadores que, objetivamente, influenciaram-no, uma vez que passou pelas mãos de todos eles. “Manuel António, Agnaldo Melo, Toni Marques e Humberto Rua foram importantíssimos no meu crescimento como atleta, primeiro, e no meu aprendizado de como deve trabalhar um treinador, em segunda instância”.
Com eles viu e aprendeu imenso, mas tem a sua forma de ser e estar no banco: “ninguém gosta de sair de um jogo, eu entendo isso perfeitamente! O que me chateia mesmo são os “acomodados”, aqueles que encaram com normalidade entrarem hoje como titulares e no próximo jogo estarem de volta no banco, sem questionar o treinador, sem estar minimamente interessado em continuar como titulares. Sempre questionei os treinos, fui capitão e tive de ter a tal capacidade de liderança. Olha, na verdade, aprendi que ninguém tem de fazer amizades, elas vêm por natureza… os jogadores têm de ser “amigos” é lá dentro do campo, darem tudo por tudo!”
Por fim, mesmo reconhecendo ser “extremamente difícil treinar miúdos” Ricardo Lavrador não abdica de realizar o sonho que em miúdo começou a se formar dentro dele. Não é homem para dormir descansado sabendo que teve um verdadeiro desafio pela frente e não aceitou enfrentá-lo.
Vai com ganas de vencer, de formar, de criar e fazer o que ama. Sabe bem que, por algumas vezes, os obstáculos irão parecer muito maiores que as capacidades que acredita possuir. Mas, quem conhece este rapaz desde os tempos em que corria atrás da bola no velhinho Campo das Pedrigueiras, sabe bem que ele não é homem de baixar os braços.
Ricardo é assim: frontal, lúcido, prático mas, principalmente, um apaixonado pela arte do futebol!
O Jornal Mira Online deseja ao novo emigrante, as melhores felicidades e que, inevitavelmente, este seja apenas o primeiro passo para chegar onde merece: bem alto!
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