Mariana Zhu não queria acreditar quando, na sexta-feira, a irmã lhe mostrou o que estava afixado à janela de um restaurante, do lado de dentro, na cidade de Barcelos. Duas folhas a indicar a proibição de entrada, uma com a bandeira chinesa, outra com o símbolo do Partido Comunista.
Nascida em Barcelos de pais chineses, Mariana, de 17 anos, publicou as imagens na rede social Twitter, e já conta com mais de 1.200 ‘favourites’ em poucas horas, levantando uma onda de indignação e acusações de racismo a Richard Spickman, gerente do Ristorante Divinal.
A jovem explicou a O MINHO que esta situação causou “muita revolta” em casa e que o racismo existe em Barcelos e deve ser denunciado. Mariana conta que desde criança que sofreu preconceitos. “No jardim de infância os colegas chamavam-me nomes, a mim e a uma prima, chamavam ‘chincoã’ e puxavam os olhos para trás a fazer troça dos nossos”, conta.
“Infelizmente, continua até agora, são sempre ‘piadas’ e ‘brincadeiras’, mas na verdade é muito mais do que isso, as coisas que são ditas podem destruir completamente uma pessoa”, sublinhou Mariana ao nosso jornal.
A jovem nunca esqueceu outras situações de discriminação, como quando lhe foi vedado o acesso a um baloiço de um parque de uma freguesia enquanto que a colega que ia ao lado não viu qualquer restrição.
“À medida que fui crescendo, aprendi a lidar melhor com a situação, contudo, em tempos de crise, o ódio é notável, e com a covid-19 a xenofobia tem, sem dúvida alguma, aumentado, como se eu tivesse culpa do que aconteceu”, acrescentou. Mariana finaliza a entrevista a referir que “somos todos iguais e ninguém é melhor que ninguém”.
O MINHO falou por duas vezes com responsáveis do restaurante, mas nunca com o proprietário, Richard Spickman, conhecido por, em 2013, ter-se barricado num restaurante daquela cidade, levando à intervenção das forças policiais.
De acordo com a gerente, que pediu para não ser identificada, a situação “é desconhecida”. “Não sei de nada, os papéis podem ter sido colados por fora, mas não sei mesmo do que está a falar”, disse.
Questionada por O MINHO, a gerente afirmou que “todas as pessoas são bem-vindas” e que não existe nenhuma ordem para “não deixar entrar chineses”. “Nós queremos é o máximo possível de clientes”, sustentou a gerente do restaurante que se encontra a funcionar em regime de ‘delivery’ e ‘take away’.
No entanto, várias testemunhas confirmaram ao nosso jornal a colocação dos panfletos com teor xenófobo no lado interior das janelas daquele restaurante italiano.
O proprietário mostrou-se indisponível para comentar a situação.
Fernando André Silva / O MINHO