O Governo acredita que, no máximo, no próximo mês, as obras de reformulação do IP3 entre Penacova e Mortágua vão ser concluídas.Trata-se de um atraso de quase 10 meses, e acima de tudo de uma derrapagem de sete dígitos.
As obras de requalificação do IP3 entre Penacova e a Lagoa Azul, em Mortágua, estão atrasadas dez meses. O projeto orçado em cerca de 12 milhão de euros vai ficar um milhão de euros mais caro.
Em declarações à TSF, Álvaro Miranda, da Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3, considera uma “incúria e uma pouco vergonha” o atraso de cerca de um ano da empreitada numa estrada onde já morreram mais de 200 pessoas.
“As obras decorrem a um ritmo muito lento. Continuamos a ver poucos trabalhadores alocados a esta obra”, lamenta.
Para quem utiliza o itinerário principal n.º 3 a pandemia não pode ser uma desculpa para a derrapagem na intervenção. A Associação de Utentes e Sobreviventes até acha que a Covid-19 e o confinamento deviam ter ajudado a acelerar os trabalhos porque há agora menos movimento na via.
“A pandemia não pode ser tida como o problema para que a obra não avance. A obra nunca parou e até podiam e podem aproveitar para que a obra seja mais fluida na sua conclusão. O trânsito diminuiu muito e há muito mais facilidade em efetuar uma obra numa via quando o trânsito é muito inferior”, defende Álvaro Miranda.
A Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3 está preocupada com o atraso da empreitada, mas também com o facto de o projeto em curso deixar de fora algumas obras.
“Iremos sempre ficar com um remendo na zona da livraria do Mondego, que é um concurso à parte. Nem sequer se iniciou a reparação deste troço e também vamos continuar sem soluções na zona de Oliveira do Mondego, na ponte que atravessa a albufeira, porque não foi contemplada nesta fase do projeto qualquer solução para os veículos agrícolas que circulam naquela zona”, lamenta.
Álvaro Miranda questiona “como é que as pessoas se vão deslocar para os terrenos agrícolas” e “levar os seus animais para a pastorícia”.
“Já me custa falar da desgraça que é o IP3”
Quem também continua muito critico em relação às obras no IP3 é o presidente da Câmara de Viseu. Almeida Henriques fala num “atraso flagrante” e diz que a via está uma “desgraça”.
“Já me custa falar da desgraça que é o IP3 porque nem o primeiro troço ainda está concluído, nem sabemos quando é que vai estar concluído o projeto dos restantes troços”, afirma o autarca, acrescentando que “o Governo tinha dito que até ao final da legislatura” o IP3 estaria concluído e após um ano de funções “as coisas estão como estão”.
Apesar de crítico e de considerar “um remendo” o que está a ser feito, Almeida Henriques até encara como uma mais-valia a requalificação em curso em parte do IP3.
O presidente da Câmara de Viseu sustenta que agora é preciso acelerar os trabalhos e defende que este ou outro Governo não pode deixar cair o projeto de construção da nova autoestrada entre Viseu e Coimbra.
“Eu continuo a achar que virá alguém com visão, deste Governo ou de outro, que venha outra vez recuperar a perspetiva da Via dos Duques. Essa sim era estruturante porque permitiria concluir o IC12, fazer o IC37 entre Viseu e Nelas e depois a ligação a Seia e a ligação a Sul, do IC12 à A13, a Sul de Coimbra”, aponta.
Intervenção a acabar e mais cara
O Ministério da Infraestruturas e da Habitação reconhece o atraso nas obras em curso no IP3 e diz que a demora teve várias causas. Entre elas o “incumprimento de prazos de diferentes atividades que levou a Infraestruturas de Portugal a requerer, ainda em 2019, a apresentação de um Plano de Recuperação de Atrasos”.
Por outro lado, tiveram também impacto “as más condições climatéricas sentidas em dezembro/2019, incluindo a ocorrência de duas ‘depressões’, que inviabilizaram o cumprimento deste Plano de Recuperação”.
“O escorregamento ocorrido num talude de escavação na zona da obra na madrugada do dia 21 de dezembro de 2020, que implicou o corte do IP3 entre os Nós da Espinheira e de Penacova, que obrigou à mobilização de equipamento e pessoal (que deveria estar a ser utilizado na obra) para os trabalhos de remoção de terras e reparação da via necessários à reposição da circulação”, explica o Ministério num esclarecimento à TSF.
De acordo com a mesma nota, as obras derraparam também devido a um atraso na entrega das obras de construção dos Nó de Oliveira do Mondego e do Cunhedo, que “apenas pôde ocorrer” em junho de 2020, “após obtenção de licenciamento de natureza ambiental”.
“Prevê-se que os trabalhos estejam concluídos entre o final de fevereiro e o final de março”, salienta o gabinete do ministro Pedro Nuno Santos, que adianta ainda que “o valor da empreitada foi ajustado para cerca de 13 milhões de euros”,ou seja, mais um milhão de euros face ao que estava projetado inicialmente.
Quanto à duplicação e requalificação do restante traçado do IP3, entre o nó de Souselas, em Coimbra, e o de Viseu com a A25, o Governo explica que “o Projeto Base e o Estudo de Impacto Ambiental já foram concluídos e submetidos a Avaliação de Impacto Ambiental em dezembro de 2020”.
O Ministério das Infraestruturas mantém 2024 como o ano da conclusão das obras em todo o itinerário principal n.º 3, uma data apontada pelo Ministro Pedro Nuno Santos em julho de 2019. A empreitada está avaliada em 134 milhões de euros e será suportada apenas por fundos estatais.
“O Projeto de Execução será desenvolvido de forma a possibilitar a materialização das empreitadas por troços e de forma desfasada, contribuindo para o cumprimento da data objetivo de conclusão das intervenções em 2024”, refere.
José Ricardo Ferreira / TSF