Duas toneladas de madeira, ferro e esferovite dão forma à locomotiva a vapor que, sábado, voltará a “apitar” em Viana do Castelo, recriando o ambiente que se viveu na cidade, em 1878, aquando da inauguração da ponte Eiffel.
“A ponte Eiffel foi construída para que a Linha do Minho atravessasse o rio Lima e prosseguisse viagem até Espanha. Foi, de facto, um ponto alto para a região que influenciou toda a dinâmica da cidade, a feira, o mercado, os trabalhos agrícolas”, afirmou à Lusa Gil Viana, da comissão executiva das festas da capital do Alto Minho.
Segundo Gil Viana, “há registos que confirmam que no primeiro comboio que se deslocou à romaria viajaram cerca de 2.000 pessoas, incluindo públicos que anteriormente não tinham facilidade de ir à festa, por falta de transporte”.
A travessia rodoferroviária sobre o rio Lima foi inaugurada a 30 de junho de 1878, trazendo o comboio, através da Linha do Minho, à cidade de Viana do Castelo.
A estrutura, criada pelo engenheiro Gustave Eiffel, é um símbolo da arquitetura do ferro em Portugal, mede cerca de 645 metros de comprimento e foi considerada, na altura, uma obra monumental.
A réplica de um daqueles primeiros comboios que atravessou a velha ponte metálica vai integrar o cortejo histórico e etnográfico da Romaria d’Agonia, no sábado, a partir das 16:00.
“O cortejo vai remeter para o comboio, para a ponte Eiffel e sua envolvência, mostrando a forma como a chegada deste novo meio de transporte na Linha do Minho veio dar força à feira semanal de Viana do Castelo”, explicou o responsável pelo guião do desfile.
O desfile inspirou-se ainda na lenda do rio Lethes (do Esquecimento), segundo a qual, quando alguém que não fosse da terra atravessasse o rio para a outra margem, ficava enfeitiçado esquecendo a sua pátria, a sua família e até o seu próprio nome.
A preparação do cortejo começou em janeiro, com a escolha do tema. Seguiu-se “muito trabalho de pesquisa e levantamento histórico para tudo fosse o mais fiel possível”.
Composta por dois tabuleiros metálicos – o superior rodoviário para trânsito automóvel e pedestre e um inferior, ferroviário – a “velha” Eiffel veio substituir uma ponte, em madeira, que ligava o então terreiro de São Bento à margem esquerda do rio Lima, junto à capela de São Lourenço, na freguesia de Darque.
Gil Viana traçou o guião do cortejo que, no sábado, “quer transmitir às pessoas que assistirem ao desfile, todo cenário que se viveu na altura”.
O roteiro ficou “fechado” em abril e, em maio, nos armazéns da Câmara de Viana do Castelo, na Praia Norte, entraram em ação os desenhadores, serralheiros, carpinteiros e pintores, num total de 22 funcionários do município”.
“Em maio começamos a trabalhar a meio gás. A partir de julho foi a toda a força”, explicou Elias Fernandes, há 25 anos a trabalhar nos bastidores da romaria.
O responsável pela equipa que executa os carros alegóricos para o cortejo “nunca assistiu a nenhum”.
“Esse é um dia de muito trabalho. A nossa preocupação é que tudo corra bem. Não há um minuto para ver o cortejo. No final, com os comentários que ouvimos das pessoas que assistiram, sabemos que tudo correu bem”, referiu.
Os 140 números do cortejo percorrem cerca de 2.300 metros pelas principais artérias da capital do Alto Minho, demorando praticamente três horas.
São mais de 30 carros alegóricos distribuídos pelas componentes histórica e etnográfica, envolvendo representações das 40 freguesias do concelho e mais de 2.500 figurantes.
O cortejo começou a realizar-se 1908 com a então designada Parada Agrícola. É um dos pontos alto da romaria a que assistem, normalmente, segundo números da organização, cerca de 400 mil pessoas.
Lusa