A Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Coimbra lançou, o ano passado, a iniciativa AutonomEu – projeto cofinanciado pelo Programa de Financiamento a Projetos do Instituto Nacional para a Reabilitação e que decorreu entre setembro e novembro de 2021.
Tratou-se de um programa de treino intensivo de competências ao nível da capacidade funcional e cognitiva da pessoa com deficiência intelectual, de preparação para a autonomia e vida independente. Segundo a presidente da APPACDM de Coimbra, Helena Albuquerque, “este projeto é importante para mostrar que muitas vezes as Instituições de apoio à
deficiência não respondem mais adequadamente à sua missão pois veem-se confrontadas com restrições a nível financeiro que as impede de construir um corpo de colaboradores em número adequado”.
Nos últimos anos, a institucionalização surge, por vezes, como a única solução para a pessoa com deficiência intelectual. Essa realidade está associada ao apoio insuficiente aos cuidadores informais, com as inerentes dificuldades de integração no contexto familiar, social e laboral, por falta de treino e capacitação das suas potencialidades. Helena Albuquerque refere ainda que “a base do sucesso deste projeto consistiu no financiamento de um conjunto de recursos humanos especializados que, caso contrário, seriam impossíveis de contratar”.
A iniciativa visou a promoção de atividades de habilitação que levam ao aumento da participação e qualidade de vida das pessoas com deficiência intelectual e suas famílias, incluindo a promoção da sua autonomia. Nesse sentido, atividades como utilização do telefone, realização de compras, preparação de refeições, tarefas domésticas, lavagem da roupa, utilização de meios de transportes, manuseamento de medicação e assuntos financeiros foram trabalhadas intensamente.
Os resultados obtidos mostraram uma dependência moderada, contudo, a fase final teve itens com grande melhoria em comparação à fase inicial. Tarefas domésticas, tratamento de roupa e responsabilidade por assuntos financeiros foram os itens com alterações bastante positivas.
Constatou-se, também, uma evolução ao nível da avaliação das funções cognitivas, com especial destaque para a área de orientação. Aqui, os beneficiários, com as práticas intensivas de intervenção e acompanhamento, conseguiram situar-se de forma mais acertada no tempo e no espaço.
Na avaliação geral de Qualidade de Vida os valores obtidos foram bastante positivos, com nove em cada dez participantes a demonstrar um grau de satisfação elevado. Os objetivos a longo prazo destes programas de incentivo à autonomia passam por melhorar a prevenção da precipitação da doença neurodegenerativa, potenciar o desenvolvimento funcional através de um programa de treino intensivo, prevenir o burnout no cuidador informal e contribuir para a promoção da inclusão na sociedade, pontos considerados fulcrais para a plena integração do cidadão com deficiência intelectual.