Raul Almeida: “Por uma questão de dignidade… por respeito aos mirenses!”

“Por uma questão de dignidade… por respeito aos mirenses!

 

Caro Dr. Manuel Martins

Acredite na minha sinceridade quando lhe manifesto a minha estima e respeito, sentimentos que, estou certo, são partilhados pela maioria dos mirenses.

O anúncio da sua candidatura criou em mim a esperança e a expetativa de que a próxima campanha eleitoral seria um espaço de debate sério, sobre os problemas do concelho e, essencialmente, das suas possíveis resoluções. Face ao texto por si assinado e publicado no Jornal Voz de Mira, no passado dia 16 de Junho, bem como, a diversos textos publicados nas redes sociais, começo a descrer!

Não é, claramente, a mesma pessoa que conquistou a minha estima e respeito! A mesma pessoa que quero continuar a estimar e respeitar após as eleições, independentemente dos resultados.

Lidero uma equipa que, por vontade dos mirenses, tem governado os destinos do concelho nos últimos quatro anos. Apesar da consciência de que nem tudo terá corrido como desejei, não sinto necessidade de fazer esquecer da memória coletiva dos mirenses estes quatro anos de governação. Antes, sinto orgulho neles e na minha equipa. Não entendo a necessidade que o Senhor, bem como, as pessoas que o rodeiam têm de fazer esquecer aos mirenses que foi Vice-Presidente da Câmara durante sensivelmente sete anos.  Abandonou o cargo sem que, até ao momento, houvesse da sua parte um cabal esclarecimento das suas razões e sem que tenha dado garantias de que tal não voltará a acontecer.

No artigo por si assinado refere “ (…) que foi com este executivo que vimos um dos maiores empregadores do Concelho de Mira, a Maçarico SA, deslocalizar grande parte dos seus investimentos para o Concelho de Cantanhede.”

Então vamos a isto:

Esta acusação é verdadeiramente surpreendente. As primeiras referências a negociações da Maçarico com a Câmara de Cantanhede constam de deliberação daquela edilidade em 17/03/1995, era o Dr. Rui Crisóstomo presidente da Câmara de Cantanhede. O contrato- promessa pelo qual o Município de Cantanhede se comprometia à disponibilização de espaço industrial e a Maçarico se comprometia construir é de 17/12/1999. A escritura definitiva que consumou o negócio é 14/09/2011. Adivinhe quem era o vice-presidente da Câmara de Mira. Exatamente, o Dr. Manuel Martins. Então, que responsabilidades tenho eu? Na altura, nem candidato era à presidência da Câmara. Fique ciente que assumirei sempre as responsabilidades dos meus atos, no entanto, nunca deixarei que “empurre para cima de mim” responsabilidades que não são minhas.

Sou também acusado de ter permitido um conjunto de crimes ambientais “que vêm acontecendo no concelho de Mira e de Cantanhede”.

Eu não era presidente da Câmara quando, em meados da década de 90, promoveram a adesão do concelho de Mira ao sistema da SIMRIA e a apresentaram como uma grande vitória. O sistema criou, realmente, diversos problemas ambientais ao Concelho de Mira!

No meu mandato foram resolvidos alguns desses problemas, nomeadamente, nas estações elevatórias do Casal e da Lagoa e, por pressão minha, está para ser iniciada a  obra que vai permitir à sucessora da SIMRIA acelerar os caudais das condutas em mais 25%. Promovemos, ainda, um estudo para a construção de uma ETAR para tratamento dos efluentes de Cantanhede que deixarão, assim, de transitar no nosso Concelho.

Mas não ficamos por aqui!

O concelho de Cantanhede entrou no sistema, da então SIMRIA, exatamente em 02/12/2009. Por favor registe e confirme esta data!!!  

O Dr. Martins era, então, vice-presidente da Câmara e, nessa altura, responsável pelo pelouro. Entre 2005 e 2012 que lutas é que travou para evitar que os efluentes vindos de Cantanhede atravessassem o nosso Concelho? Quanto ao saneamento do Casal de S. Tomé, nunca escondemos que enferma de graves problemas, mas vamos avivar-lhe a memória:

O projeto do saneamento do Casal de S. Tomé é de 2008 e, quando cheguei à presidência da Câmara, estava já em fase de conclusão. A mim coube-me a responsabilidade de o concluir para que o Município não tivesse de devolver algumas centenas de milhares de euros recebidos de fundos comunitários por incumprimento.

Acusa-me de atirar a “toalha ao chão” na questão da Barrinha? Olhe que não!

Já está concluído o concurso de empreitada para dragagem da barrinha que irá ocorrer logo após a época balnear. Bastava estar atento ao “site” do Polis Litoral Ria de Aveiro. Foi uma vitória minha em negociações com o Polis! Pelo menos consegui isto! Os problemas da Barrinha não se resolvem com retórica. Resolvem-se com luta diária. Já agora permita-me que, realisticamente, repita que, dificilmente, a Barrinha alguma vez volte a ser o que já foi. Ser realista é uma coisa, deixar de lutar para que, num futuro mais ou menos próximo, volte a sê-lo é outra coisa!Tenha consciência disso e fique descansado, pois, em nenhuma circunstância da vida atiro a “toalha ao chão”!

Maliciosamente, da minha entrevista citou apenas uma frase descontextualizada para atingir o objetivo de me denegrir. Quando refiro que não volta a ser o que era , refiro-me aos usos e não à qualidade ambiental, essa será sempre uma luta a  travar. Esqueceu-se de referir que lá estava escrito que, por minha iniciativa, foi criado um grupo de trabalho que engloba a Universidade de Coimbra, o Instituto do Mar e da Atmosfera, a Autoridade para os Recursos Hídricos, o Instituto de Conservação da Natureza, eu próprio e membros do meu executivo. Está a ser preparado um plano, com base científica, tendo em vista a resolução de problemas após o desassoreamento.

Quanto à questão do Campo de Golfe e da Lusiaves vamos ver se nos entendemos: o  Dr. Martins refere, e muito bem, que no PDM de Mira está previsto um campo de golfe. É verdade! Mas, mais uma vez, tenho de lhe avivar a memória: o campo de golfe já estava previsto no Plano Geral Urbanização da Lagoa e Praia de Mira, aprovado no início dos anos 80, e a sua localização seria entre a Quinta da Lagoa e o complexo Miravillas. O então ministro do Ambiente, José Sócrates, alterou a sua localização para os Foros no Seixo e condenou definitivamente o projeto. O campo de Golfe está previsto há mais de 30 anos. Em 30 anos não gerou um posto de trabalho ou o rendimento de um único cêntimo às famílias de Mira e, na verdade, o campo de golfe, naquela localização e naquelas condições, não passa de uma “miragem”! Haverá outras localizações! É possível estudar e enquadrar essas localizações! Vemos os nossos filhos emigrar, em busca de emprego, mas vamos continuar à espera que, um dia, apareça um tal investidor para um tal campo de golfe.

Surpreendentemente, o simples encetar de negociações com um Grupo empresarial com mais de 30 anos e que emprega mais de 3.000 pessoas e que se propõe criar em Mira 400 postos de trabalho é um fato político grave! Alguém já tomou uma decisão definitiva? Não há qualquer decisão definitiva! Há, sim, um longo caminho a percorrer!

São necessários pareceres de 7 entidades do Estado. É necessária a Avaliação Estratégica Ambiental, um Estudo de Impacte Ambiental e um RECAPE (Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução). Vai haver, pelo menos 3 períodos de discussão pública. A Câmara, a Assembleia e a população de Mira que, através das discussões públicas pode (e deve) participar na discussão deste projeto. A este respeito, a sua candidatura tem uma posição, no mínimo, curiosa: em reunião de Câmara de 19/12/2016 foi aprovada, por unanimidade, “a proposta de alteração de desafetação florestal de 71.7952 ha para instalação de Atividades Agropecuárias, a ser submetido posteriormente a reunião de Assembleia Municipal”. Em reunião da Assembleia Municipal, na tarde do mesmo dia, a proposta foi aprovada por maioria, colhendo apenas uma abstenção. Tratava-se da alteração ao uso do terreno destinado ao golfe para ser utilizado em atividades agropecuárias.

Recentemente, na Reunião de Câmara de 30 de Maio, foi dado mais um passo na referida alteração ao PDM, aprovada por unanimidade, não tendo sido apresentada nenhuma proposta de relocalização pelo Partido Socialista.

Quanto ao turismo de todo ano, desejaria ter feito mais, mas faça uma viagem no “Google Earth 3D” e compare as imagens da Praia e do resto concelho em 2013 com a realidade atual. Para além de termos mudado a face da Praia de Mira e do Centro da Vila, ainda criámos eventos de referência que vieram acrescentar passos seguros no desenvolvimento do turismo sustentável. Que diz da passagem de ano na Praia de Mira, da pista de crosse, do campeonato nacional de corta mato deste ano e do campeonato europeu de atletismo já marcado para 04 de fevereiro do próximo ano nesta pista? Ainda não se apercebeu da quantidade de atletas que fazem no nosso concelho a sua preparação para provas de atletismo de nível mundial, durante todo o ano?

Assinar um texto que faz acusações de fatos facilmente verificáveis, através de provas documentais, e não as confirmar é grave para quem quer assumir os destinos do concelho. O senhor sabia, ou devia saber, que os fatos de que sou acusado são mentiras.

Para concluir, dir-lhe-ei apenas que, depois desta resposta, jamais me deixarei envolver neste tipo de campanha. Estou inteiramente disponível para debates públicos consigo sobre projetos. Para este tipo de polémicas que nada acrescentam ao concelho…não!

Por uma questão de dignidade e… por respeito aos mirenses!”

 

 

 

 

N.R. Comunicado da Campanha de Manuel Martins – PS/Mira foi publicado no Jornal Mira Online em 23/06/2017.