Recentemente, foram inauguradas as instalações da ABMG – Águas do Baixo Mondego e Gândara – em Mira. Por aquela altura, o Presidente da Câmara Municipal, Raul Almeida, respondeu à questões referentes à duas dores de cabeça do Município: a água e o saneamento. Leia a entrevista, abaixo, na íntegra:
Porquê a ABMG? Não poderia o Município ter continuado como até agora a gerir sozinho a água e saneamento?
Dificilmente tínhamos outra opção, o próprio Governo e a União europeia fomentaram a agregação de sistemas de municípios com menos de 20 mil habitantes para, dessa forma, poderem ser alcançados ganhos de escala e um uso mais sustentável dos recursos.
Neste contexto, o acesso a fundos comunitários, passou a estar apenas acessível a sistemas com o mínimo de 50 mil consumidores e que demonstrem não serem deficitários financeiramente. A decisão tomada de agregação foi a mais acertada pois, no âmbito desta nova empresa, Mira tem já aprovados cerca de 3 milhões de euros de investimento através da POSEUR e com perspetivas de, a breve trecho, este valor poder ainda subir.
Além dos financiamentos comunitários, acredito que a criação de equipas especializadas e dedicadas exclusivamente a estes sectores, serão um forte contributo para a melhoria de ambos os serviços.
Acabou de falar em melhoria do serviço e temos assistido algumas vezes a reclamações da qualidade do abastecimento de água nalguns locais do concelho. O que nos pode dizer relativamente à qualidade da água?
A procura da melhoria da qualidade da água é sem dúvida a maior “obra” e a minha principal preocupação enquanto autarca até ao final do presente mandato. Temos de corrigir esta situação!
Se analisarmos os programas eleitorais de há 11 anos, verificamos que já na altura os partidos plasmavam essa preocupação e a necessidade na intervenção no abastecimento de água e ampliação da rede de saneamento. Tem sido um problema recorrente e tem-se agravado por causa das partículas que se tem vindo a acumular nas condutas. Em muitas zonas o sistema está obsoleto e necessita ser requalificado.
Estamos totalmente empenhados juntamente com a ABMG em resolver rapidamente esta questão. Recordo que em 2019 investimos mais de 250.000€ em novos equipamentos e infraestruturas, tendo conseguido que a água à saída das captações tenha tido uma redução significativa dos níveis de ferro e manganês.
A ABMG, entretanto, já este ano, tem efetuado diversos investimentos tais como: colocação de caudalímetros nos reservatórios, aquisição e reparação de bombas; diversas intervenções na rede e adjudicou já um arejador e dois novos filtros para as captações da Lagoa e um novo furo de profundidade junto ao reservatório da Presa.
Vão ser ainda abertos, a curto prazo, três concursos públicos: um investimento de 1,3 milhões de euros numa nova estação de tratamento de água na Lagoa, a que acrescerá logo de seguida, um investimento de mais de 1 milhão de euros para reforço da eficiência da rede de água, nomeadamente, substituição de condutas, e ainda o aumento da rede de saneamento básico na Zona Industrial de Mira, e parte do Seixo e Cabeças verdes (mais de 400 ramais domiciliários).
Temos noção de que é uma situação que não está a funcionar como deveria mas queremos e tenho a firme certeza de que o vamos conseguir. Nunca como agora se investiu tanto no sector da água em Mira. Entre 2019 e 2020 falamos em mais de 3 milhões de euros!
Inevitável a questão da fatura do consumidor. Vai haver aumento da mesma?
Sim. Nunca escondi que irá haver um aumento da fatura. Contudo, pretendemos e como sempre defendi que esse aumento fosse progressivo e acompanhado pela melhoria da qualidade do abastecimento da água como já foi anteriormente falado. O aumento na qualidade tem consequentemente custos associados.
Relembro que o nosso sistema de abastecimento é há muitos anos deficitário, ou seja, não cobre os custos. À luz da legislação teríamos sempre de aumentar os preços, no entanto, ao constituirmos a nova empresa vamos conseguir poupar muitos recursos que permitirão que esses aumentos sejam muito menores, sempre aliados ao progresso da melhoria da qualidade do serviço.
Em Mira, a fatura da água era das mais baixas do país. Basta olhar para um consumidor em Calvão, Tocha ou Cantanhede, localidades vizinhas que são geridas pela ADRA e INOVA, onde as respetivas tarifas já foram atualizadas há já muito tempo.
Em conclusão, o consumidor vai pagar um pouco mais, mas esse aumento vai traduzir-se numa significativa melhoria da qualidade da água e num aumento da rede de saneamento, cobrindo todo o concelho a curto médio prazo.
Sublinhar ainda que estes novos preços são ainda assim mais baixos do que a média do Distrito de Coimbra e da Média Nacional.
Por último. Qual o balanço que faz destes primeiros meses da ABMG?
Após estes meses de funcionamento cada vez estou mais convicto de que este é o caminho certo e que a constituição desta empresa é o melhor para o nosso Concelho. Tenho acompanhado as várias melhorias e planos diários de monitorização na água e saneamento. As equipas estão muito empenhadas em resolver as várias situações com que se deparam diariamente. Nenhum dos Municípios tinha nas suas equipas técnicas, elementos dedicados exclusivo ao abastecimento de água e saneamento.
Mesmo com a COVID-19, a ABMG adaptou-se à realidade e não parou de laborar. Continuou com os projetos que estavam planeados e o serviço não abrandou. De recordar que a ABMG é composta por capitais públicos, em que os Municípios detêm a totalidade do capital e o domínio total do sistema, sem depender do Governo (Águas de Portugal), nem de privados. Nesse sentido, foram implementados descontos no tarifário, neste âmbito da COVID-19. Descontos esses que só foram possíveis porque os Municípios têm a possibilidade de o fazerem e manterem a componente de apoio social que está nas suas competências.
Francisco Ferra / Jornal Mira Online