30.6.2024 –
Como parte da parceria SRCentro da Ordem dos Enfermeiros / Jornal Mira Online, publicamos mais um artigo importante sobre a saúde dos portugueses. Vale a pena ler o texto, na íntegra!
“O setor da saúde é, indiscutivelmente, um dos mais complexos, relevantes para a vida de qualquer pessoa, profundamente impactante para a economia e no qual as oportunidades existem.
De facto, todos nós percebemos que a saúde de cada um de nós e dos nossos ocupa um espaço vital no nosso quotidiano, na nossa vida. Não há quem possa negar esta primordialidade, pois sem saúde nada se consegue, nada se constrói, não existe futuro.
As últimas décadas, ao contrário do que seria desejável, demonstram uma despreocupação, ou pior, uma falta de vontade dos decisores políticos enfatizarem este setor.
Torna-se claro para todos que a saúde, a educação, a segurança e a justiça, são os pilares de qualquer estado. No nosso caso concreto, a saúde, e em particular o Serviço Nacional de Saúde (SNS), com os múltiplos profissionais de saúde, são o pilar da nossa democracia ou, pelo menos, foram, nos últimos 45 anos.
Acontece que esta falta de estratégia e planeamento delapidaram o SNS, houve desinvestimento, quer nos profissionais, quer nas infraestruturas, quer em muito do que medeia nesta área. O resultado está à vista de todos, sobretudo nos últimos anos, tem-se vindo a degradar, criando o ecossistema perfeito para o surgimento de stakeholders privados.
Aqui chegados, exigem-se medidas, mas, acima de tudo, opções. O Governo, e em especial o Ministério da Saúde e das Finanças, têm que perceber o que fazer para dar um futuro ao SNS ou, ao contrário, enveredar por um outro caminho. Claramente, o país ainda não está preparado para um setor da saúde sem o SNS, ouso mesmo dizer, que nunca estará e jamais o aceitará.
Ora, quando se percebe o clima instável dentro das organizações prestadoras de cuidados de saúde, nas quais burnout, o esgotamento, a falta de perspetivas e soluções, e os sistemáticos adiamentos para consensos, a politização e a consequente inoperância, havendo um rumo sistémico de tudo fazer sem meios e recursos, esgotando o que já está esgotado, nunca será acolhido e compreendido pelos profissionais de saúde.
É com preocupação que verificamos os adiamentos das reuniões com as diferentes estruturas sindicais dos enfermeiros, médicos e farmacêuticos com a justificação assente na agenda da Sra. Ministra da Saúde, e de um trabalho que está a ser realizado com o Ministério das Finanças, para encontrar respostas a algumas das necessidades destes profissionais de saúde.
Prioritário para qualquer Ministro de Saúde no momento deverá ser celeridade para mitigar os imensos problemas estruturais e outros do setor, não havendo tempo a perder porque a esperança quando esmorece traduz-se em maus resultados e envolvimento nas resoluções tão necessárias a dar na estreita medida das necessidades dos cidadãos.
Ao Ministro das Finanças importa perceber que estamos a falar da vida de pessoas e que um sistemático perigo de nada poder fazer por questões financeiras deve levar a tomar opções, sobre outros determinados setores, essas devidas e necessárias em muitas outras áreas do Estado, e que, claramente, não são prioritárias para as pessoas.
Quando o próprio Ministro das Finanças assume a expetativa de um crescimento da Economia na ordem dos 3%, isto tem que significar que essa mais-valia deverá ser canalizada para os setores prioritários como a saúde e a educação, a segurança e a justiça.
O economista Prof. Ricardo Ferreira Reis, num estudo da Universidade Católica para a Euronext, vem destacar a saúde e a energia como setores estratégicos para a atração de investimento privado em Portugal. Sendo o setor da saúde uma oportunidade para desenvolver também a nossa economia, compete ao Governo fomentar e investir no mesmo, pois será, certamente, um mecanismo de maior atratividade a investidores externos e internos, bem como, o incremento da inovação e tecnologia e o potenciar desse setor para um outro patamar na economia nacional com capacidade produtiva, eficácia e eficiência, e geradora de riqueza.
Mas sem profissionais e, em particular, os Enfermeiros, motivados e valorizados, nos quais a esperança não seja apenas um anseio, vamos obter um ruir do SNS, a emigração crescente e o abandono da profissão.”
Valter Amorim
Presidente do Conselho Diretivo da Secção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros