O Presidente da República revelou hoje que vai fazer um convite formal para o papa Francisco visitar Portugal, pretendendo aliar o centenário das aparições de Fátima à gratidão do estado português pelo reconhecimento pioneiro da sua independência.
“Eu trago comigo uma carta formal em nome da República Portuguesa a convidar sua santidade a visitar Portugal, a propósito do centenário das aparições de Fátima [em 2017] e espero encontrar no papa Francisco um acolhimento a este convite”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, em Roma.
O Chefe de Estado declarou que, assim, a visita do papa juntaria “um acontecimento religioso a uma projeção que é ao mesmo tempo um reconhecimento da gratidão por aquilo que significou desde os primórdios da nacionalidade o apoio àquele estado independente que nascia e que teve no papado, antepassado da Santa Sé, o primeiro gesto de aceitação e de compreensão à escala de então do universo, que era sobretudo europeu”.
Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que o motivo da primeira visita ser ao Vaticano, onde se encontra com o papa Francisco às 10:00 (09:00 em Lisboa), deve-se ao facto de ter sido essa a primeira entidade a reconhecer internacionalmente Portugal como um estado independente e D. Afonso Henriques como rei.
A independência de Portugal e o título de rei a Afonso Henriques foram reconhecidos pelo papa Alexandre III em 1179.
Questionado sobre eventuais semelhanças entre o papa e ele próprio, o Presidente da República recusou comparar-se a Francisco, considerando que isso seria “realmente desproporcionado”, mas assumiu uma convergência no que considera ser o retomar do espírito do Concílio Vaticano II.
“O papa Francisco retoma muito da tradição do Concílio Vaticano II, que marcou a minha juventude. O Concílio Vaticano II representou uma mudança apreciável em muitos aspetos da vida da Igreja Católica, no ecumenismo, na abertura às outras religiões, na sensibilidade ao novo mundo, na preocupação com uma forma de celebração, de rito, que aproximasse a Igreja das pessoas”, sustentou.
O concílio convocado pelo papa João XXIII e concluído por Paulo VI nos anos 1960 revolucionou a Igreja Católica num processo de abertura sem precedentes e que terminaria, por exemplo, com as missas celebradas em latim e de costas para os fiéis.
“Eu tinha naquela altura os meus 10, 11, 12, 13, 14 anos e 50 anos depois venho reencontrar uma preocupação muito grande com temas que continuam a ser atuais”, contou Marcelo aos jornalistas.
“A globalização é um tema que trouxe atualidade ao diálogo entre as religiões, o apelo à paz, o apelo à justiça, a procura dos mais pobres e dos mais esquecidos, que o papa fala como as periferias, o desinstalar do comodismo muita da sociedade dos nossos tempos”, acrescentou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “essa mensagem é uma mensagem que tem tocado gente que é crente e não crente pela forma genuína como o papa pensa, fala e atua”.
“Isso naturalmente também me sensibiliza muito e faz-me evocar aquilo que foi a mensagem do Concílio Vaticano II”, declarou.
Sobre o papa Francisco ser uma personalidade de afetos, uma expressão que o próprio Marcelo usou para qualificar a campanha eleitoral que o levou à Presidência da República e a abordagem que privilegia, o Presidente disse que o líder da Igreja Católica é isso e mais.
“O papa Francisco além de ser uma personalidade dos afetos é uma personalidade da proximidade, do diálogo, da compreensão, da solidariedade com os mais pobres, explorados, oprimidos, e nesse sentido, até na simplicidade da sua vida, das suas palavras, tem sido uma luz muito importante num tempo de guerra, de injustiça, de confronto”, afirmou.
“Há de facto aqui um apelo que toca crentes e não crentes e crentes os mais variados, como se tem visto no encontro de Igrejas cristãs que há muito não se encontravam”, acrescentou.
O chefe de Estado chegou a Roma hoje à tarde para a primeira visita desde que assumiu o cargo, há uma semana, e encontrou-se com elementos do clero português residentes em Roma, numa receção na residência da embaixada portuguesa junto da Santa Sé, em que estiveram presentes o cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação dos Santos, o cardeal Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor emérito e antigo núncio, e o arcebispo Blasco Collaço, entre outros.
Fonte: Lusa