O distrito de Braga é uma referência de riqueza de património, seja pelos locais classificados pela UNESCO, pela extensa produção científica, pelos valores arqueológicos ou pela mancha verde que ocupa grande parte do Minho, um legado que acarreta responsabilidades.
Para muitos, Braga é sinónimo de religião, mas a marca deixada pelo trabalho da Universidade do Minho (UMinho) é cada vez mais parte do património científico de uma zona reconhecida também pelo valor ambiental único do Parque Nacional do Gerês e pelas marcas de vários períodos da História – desde a ‘Roma peninsular’ ao visigótico e ao barroco.
Na cidade de Braga, se todos os caminhos vão dar a Roma, passam também por um dos mais recentes locais classificados como Património da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o Bom Jesus do Monte.
“A região de Braga é, essencialmente, marcada pelo culto mariano, de Nossa Sr.ª do Alívio, da Franqueira, da Fé. Em todos os concelhos temos esses lugares, com santuários maiores ou menores, como este [do Bom Jesus], o da Penha, o do Sameiro, o do S. Bento da Porta Aberta”, descreveu à Lusa o arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, que referiu ainda as “inúmeras peregrinações e romarias” no distrito.
“A arquidiocese de Braga é dotada de um património cultural e artístico que tem uma dimensões de que muito nos orgulhamos”, acrescentou.
Para um dos rostos do trabalho que elevou este ano o Santuário do Bom Jesus a Património da Humanidade, Varico Pereira, a classificação pela UNESCO aumentou o valor patrimonial reconhecido do distrito: “O distrito de Braga já tinha o centro histórico de Guimarães inscrito na lista de Património Mundial e agora mais este local. Não são muitos os distritos que têm dois sítios naquela lista”, salientou.
Aquando do anúncio, em Julho, o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, reconheceu que a distinção acarreta “uma grande responsabilidade, que é a de tudo fazer para que o local continue à altura”.
A menos de 20 quilómetros do Bom Jesus, fica outro local classificado pela organização mundial, o centro histórico de Guimarães.
“Foi, em 2001, um momento que muito nos orgulhou, porque foi o reconhecimento de uma aposta que ia contra a maré naquela altura, de deitar tudo abaixo e fazer novo. Mas agora vimos que esta nossa aposta se espalhou como o azeite pelo território e não só ao património edificado”, apontou a então vereadora da Cultura da Câmara de Guimarães, Francisca Almeida.
A preservação “excecional” do centro histórico de Guimarães foi um dos vários motivos que garantiram a entrada para a lista de Património Mundial, para a qual também contou a ligação da cidade ao “estabelecimento da identidade e da língua portuguesa”.
Na opinião do reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, Braga é um distrito em que “património e legado se confundem e se fundem”.
“Temos aqui marcas únicas da passagem de várias civilizações e de épocas históricas, com a visigótica, a barroca e, claro, a romana. Aqui a universidade tem um papel preponderante no estudo desse património, através do nosso departamento de Arqueologia e de Conservação. É uma missão que abraçamos”, disse.
Mas a UMinho não está “apenas e só” ligada à descoberta arqueológica – que “fica, fisicamente, apenas” no distrito -, mas também ao património científico produzido, que “vai de Braga para o mundo e retorna na forma de dinamização económica, patentes, reconhecimento internacional e crescimento das instituições científicas”.
“Nos nossos laboratórios, quer seja de engenharia, de medicina ou de arqueologia, estamos a produzir património que fica como forma de legado e que ultrapassa as fronteiras da universidade, do distrito e do país”, ressalvou o reitor.
No mesmo sentido, o investigador do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, Jorge Pedrosa, afirma que “a ciência produzida resulta em artigos científicos (mais de 250 por ano), mas também no desenvolvimento de patentes, como um novo fármaco ou dispositivo médico”.
Além disso, “contribui para o aparecimento de pequenas empresas que acabam por contribuir para o tecido produtivo da região “, referiu.
Além do património edificado, a UNESCO distinguiu também em 2009 o Parque Nacional da Peneda-Gerês, criado em 1971, como Reserva Mundial da Biosfera. A mancha verde do parque passa os limites do distrito de Braga (abrange concelhos de Vila Real e Viana do Castelo), “mas acaba por ser sempre referenciado como sendo em Braga”, segundo o ambientalista Manuel Castro.
“É um sítio único e de referência do distrito de Braga. São quase sete mil hectares de uma riqueza ambiental inigualável. Tem mais de 110 espécies endémicas da península Ibérica, algumas exclusivas, mais de 200 espécies protegidas e cerca de 70 com estatuto de ameaça”, descreveu.
Com todo este valor e reconhecimento, é consensual a responsabilidade de preservação do património — de acordo com os vários representantes ouvidos pela Lusa, cuidar, estudar e deixar este imenso legado às próximas gerações são os desafios do distrito.
Lusa