08.5.2024 –
A semanas de Portugal entrar no período crítico dos fogos florestais, António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, alerta para a falta de meios nas zonas mais sensíveis do país e lamenta falta de incentivos.
Se por volta 2004 havia mais de 41.500 bombeiros voluntários em Portugal, esse número passou para menos de 31 mil em 2022, segundo dados da Pordata.
Como noticia a edição do Diário de Notícias de hoje, a quebra começou a fazer-se sentir a partir de 2008 e atingiu um valor mínimo de perto de 26 mil bombeiros em 2021. O ano seguinte viu uma subida, mas António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, diz ao DN que esse crescimento é “uma questão meramente estatística”.
Em véspera de se montar o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), António Nunes alerta para a falta de voluntários — especialmente nas zonas mais críticas do país. É por isso que o dirigente entregou um dossier sobre o tema à ministra da Administração Interna esta segunda-feira.
Ao DN, António Nunes cita o caso do Pinhal Interior, onde se deu o desastre de Pedrógão Grande, em 2017. O corpo dos bombeiros voluntários desse concelho passou de 277 bombeiros no final dos anos 90 para 148 nos dias de hoje. Nos concelhos vizinhos a situação é idêntica: Castanheira de Pêra passou de 166 para 51 bombeiros, e Figueiró dos Vinhos de 99 para 75.
Perante esta sangria de voluntários, têm sido promovidas ações a crianças e jovens para apelar ao voluntariado nos bombeiros, mas António Nunes lamenta que não haja incentivos para tal, especialmente numa fase onde as opções de voluntariado são cada vez mais vastas e frequentemente menos perigosas.
“O jovem de hoje não é o mesmo de há 30 anos. As opções de fazer voluntariado hoje são imensas. As únicas em que se mantém a mesma forma é bombeiros, escuteiros e eventualmente Cruz Vermelha. Hoje temos ambiente, ecologia, migrações , organizações não-governamentais de luta contra a fome, contra a exclusão. Há hoje uma atratividade de voluntariado para os jovens com menos risco e menos responsabilidade do que aderirem a um corpo de bombeiros. Porque, logo à partida, têm de fazer 300 horas de formação, piquetes todas as semanas, ficar fora de casa. Há que perceber que a sociedade também mudou”, diz ao DN.
Como tal, António Nunes diz ser necessário não só aprovar “um Estatuto do Bombeiro Voluntário que seja apetecível e atrativo”, como também oferecer benefícios fiscais ou benesses que realmente atraiam jovens, como “uma bonificação para entrar na universidade; a possibilidade de fazer exames a título extraordinário quando um bombeiro falta por via de estar ao serviço”, entre outras.
O dirigente cita também exemplos como “países em que os voluntários são como os Rotários ou os Lions, em que pagam uma quota para serem bombeiros e são reconhecidos por isso. A sociedade vê neles um exemplo. Aqui, falamos dos Soldados da Paz, da Vida por Vida, mas não os reconhecemos.”
Madremedia