09.5.2023 –
“A Península Ibérica sempre foi um espaço de migrações o que é atestado pelas suas múltiplas designações, Ibéria, Hispânia, Sefarad ou Al Andaluz. Dos Iberos pouco sabemos, mas sabemos que Celtas, Gregos, Fenícios e Cartagineses andaram por aqui. Com estes últimos veio o Deus de Abraão professado pelos judeus Sefardistas. Durante o Império Romano a comunidade sefardita prosperou na Hispânia, principalmente no Sul urbano e mercantil.
A cristianização estabeleceu-se novamente pelo Sul a partir das províncias romanas do Norte de África. O Donatismo foi o primeiro cristianismo a chegar à Hispânia. São Cipriano de Cartago e Tertuliano de Cartago são teólogos proeminentes deste cristiano primitivo hoje venerados pelo Catolicismo. O Catolicismo Romano estabeleceu-se pelas elites romanas e mais tarde pelos reinos Suevo e Visigodo.
O Islão não chegou com a invasão de Tarique na Batalha de Guadalete em 711. O Islão era já uma realidade do Sul da península. O Mar Mediterrâneo sempre foi um espaço de trânsito de povos, mercadorias e profecias. A expansão rápida do Islão é resultado da grande diversidade de cultos judaicos e cristãos existentes. As grandes cisões no Islão datam do início da sua consolidação e tiveram grande impacto no Norte de África e subsequentemente no Al Andaluz. Os Carijitas (Ibaditas) estabeleceram um pequeno emirato sedeado em Tierte (atual Argélia) em que compartilharam muito do Donatismo cristão. O Emirato de Córdova contemporâneo pugnou por uma grande liberdade religiosa entre cultos islâmicos, cristãos e judaicos. O Califado Fatímida (Xiitas Ismaelitas), estabelecido em 909, conquista o pequeno emirato Ibadita e o Xiismo começa a sua ascensão no Norte de África e Al Andaluz. O Emirato de Córdova inicia então o seu declínio, entre duas forças em ascensão, pelo Norte os novos Reinos Cristãos apoiados pelas Cruzadas que professam um Cristianismo com raízes no Sacro Império Romano da Europa Central, pelo Sul um Islão Xiita em grande ascensão política e militar no Norte de África e Mediterrâneo.
Em 1031 o Califado de Córdova desagrega-se em várias Taifas (pequenos Reinos Islâmicos) que se digladiam entre si e com os novos Reinos Cristãos no Norte. Uma a uma, as Taifas, acabam por ser conquistadas pelos Almorávidas (Berberes Sunitas do Norte de África). O Império Almorávida acaba por sucumbir, em 1147, perante a ascensão dos Almóadas (Bérberes Sunitas) que acabam por abandonar o Al Andaluz em 1492, com a entrega de Granada. Este período coincide com a expulsão dos Judeus Sefarditas da península, no Reino de Espanha no mesmo ano e no Reino de Portugal em 1496.
A única expansão/conquista de Norte para Sul foram as Cruzadas Ocidentais que originaram os países atuais, Portugal e Espanha. As migrações demográficas, étnicas e religiosas sempre se fizeram de Sul para Norte, não só pela questão geográfica, mas principalmente pelas questões comerciais e económicas. Atualmente a Península Ibérica está novamente sobre fortes pressões migratórias. A baixa natalidade, a falta de mão de obra, os conflitos militares e étnicos nas proximidades, acabam por alimentar e aumentar esta pressão. Portugal deve adotar uma política migratória rigorosa na triagem dos migrantes que chegam às nossas fronteiras. O mundo hoje é uma aldeia global onde a informação chega a qualquer lugar tal como o oportunismo. É sempre constrangedor ver o Islão Radical (DAESH) a apelar à Reconquista do Al Andaluz.
Que imigração e imigrantes pretendemos para Portugal? Que sociedade pretendemos construir? Queremos uma sociedade com os valores da ultraconservadora família Saudita (Wahhabismo ou Salafismo) e dos Ayatollah iranianos (Xiismo radical), ou uma sociedade com os valores do direito romano e da matriz judaico-cristã?
Afinal o Deus, que todos professamos, é o DEUS de Abraão”.
Augusto Louro Miranda
(Professor, Autarca e Conselheiro Nacional do CHEGA)