Portugal continua a falhar na prevenção dos fogos florestais

 “Até profissionais fazem operações florestais em dias de elevado risco”, diz à Renascença Domingos Xavier Viegas. Nos primeiros 10 dias de Agosto, houve mais de 2.200 incêndios. Dados da Autoridade Nacional de Proteção Civil revelam que a área ardida este mês já é superior à registada na totalidade do mês Julho.

O especialista na área de incêndios Domingos Xavier Viegas considera que se continua a falhar na prevenção dos fogos florestais. “Às vezes, até profissionais fazem operações florestais em dias de elevado risco, sem terem os cuidados adequados”, afirma em entrevista à Renascença.

“Se não se convencer cada um dos cidadãos a ter mais cuidado, evitar negligências e a  ter comportamentos adequados”, será difícil reduzir o número de incêndios que todos os anos assola o país, defende o também professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Domingos Xavier Viegas considera que a divulgação da detenção de incendiários é uma “dissuasão importante para determinado sector da população”, mas o essencial é “uma ação [de prevenção] continuada, durante todo o ano”.

“Mesmo durante o Verão, não se vê muitas mensagens para chamar a atenção das pessoas e para as pessoas terem cuidados”, lamenta.

O especialista destaca também a importância do repovoamento do interior do país como medida de prevenção, mas sublinha que o sucesso da medida depende de outros fatores. “Voltar a trazer pessoas a ocupar o interior do país era importante, desde que fossem medidas que assegurassem a manutenção das pessoas nessas áreas rurais, mas também com segurança, porque o que vemos muitas vezes é que as pessoas vão viver para o interior do país, mas não cuidam das práticas para a preservação da floresta”, defende.

Quanto ao combate aos incêndios, olhando para a contabilidade deste ano (que mostra, até ao momento, uma área ardida inferior à média da última década), o professor da Universidade de Coimbra regista a evolução positiva no meios e modelos de combate aos incêndios.

Xavier Viegas elogia os resultados do que o Governo definiu como “combate musculado às chamas”, sublinhando a melhor preparação das corporações de bombeiros. A “não ocorrência de casos graves é prova disso”, conclui.

Mais de dois mil incêndios em 10 dias

Nos primeiros 10 dias de Agosto, registaram-se mais de 2.200 incêndios. A maioria ocorreu no Norte do país e, segundo os dados da Autoridade Nacional de Proteção Civil, a área ardida é superior à registada durante todo o mês de Julho.

São os números do primeiro mês da fase Charlie – época de maior risco de incêndios – e que apontam para nove mil hectares de área ardida. De fora ficam os hectares de floresta ardidos em Cerveira, Terras de Bouro e Gouveia.

Ainda assim, este valor é inferior à média anual dos últimos 10 anos, que é superior a 25 mil hectares.

Os dados assumem mais relevância se tivermos em conta que, ao nível do risco de incêndio, estamos perante uma situação semelhante aos trágicos anos de 2003 e 2005 que, no conjunto, destruíram perto de 765 mil hectares de espaços florestais – quase 9% da área total de Portugal continental.

Diferente é a realidade ao nível de ignições: ainda sem números reativos a Agosto, os dados revelados pela Proteção Civil relativos a Julho são idênticos à média dos últimos 10 anos, ou seja, na ordem das 24.949.

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