Numa operação concertada de propaganda pós-eleitoral, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque, sentaram-se à mesa de jantar com os portugueses através dos dois canais privados em sinal aberto. O estilo foi diferente, mas ambos disseram que a Coligação “venceu as eleições” e, por isso, esperam que o PS de António Costa viabilize um Governo maioritário de Passos e Portas.
Numa entrevista conduzida por José Alberto Carvalho no Jornal das 8 da TVI, Portas foi enfático ao afirmar que o “interesse nacional não é estar a discutir todos os dias a nossa pertença ao euro. 80% dos deputados são pró-europeus. O que está em causa é se o país tem Governo”.
O tom do vice-primeiro-ministro de Passos Coelho foi subindo e Portas deu um xeque-mate a António Costa, lembrando que “o interesse nacional é muito diferente de um manual de sobrevivência partidária”. Portas chegou mesmo a deixar em aberto a possibilidade de abdicar de ser o número 2 do futuro Governo, se tal fosse o preço a pagar para conseguir um acordo de regime entre o PS, o PSD e o CDS : “Se eu tivesse de deixar de ser o número 2 num governo [do PS, PSD, CDS] deixaria”.
Dando uma no cravo, outra na ferradura, acrescentou que António Costa tem “muito pouca humildade para quem perdeu”.
Quase em simultâneo, na SIC, Maria Luís Albuquerque dizia: “A nossa intrepretação dos resultados é clara. Quem venceu as eleições foi a Coligação. Os portugueses querem que a Coligação continue a governar”, mas também querem “um entendimento com o PS”.
CONTAS “OCULTAS” JÁ NÃO SÃO POSSÍVEIS
“Hoje não é possível ter contas ocultas“; a UTAO tem acesso direto às bases de dados e as “contas públicas são escrutinadas”, disse a ministra das Finanças a propósito do alerta sobre a sanidade das contas públicas lançado pelo secretário-geral do PS em entrevista à TVI na passada sexta-feira.
Mais dramático, Paulo Portas, disse: “Não há o direito de lesar a credibilidade externa de Portugal. Vivemos num tempo de comunicação global”, em que o que é dito por um político dentro do país tem repercussões lá fora. Qualquer afirmação sobre as “finanças públicas” tem custos e “lesa a credibilidade de Portugal”.
Na entrevista conduzida por Rodrigo Guedes de Carvalho, a ministra das Finanças lembrou que na reunião que teve com Mário Centeno, “não foi colocada nehuma questão” sobre as contas públicas. A Coligação quer que o PS diga o que quer, e que “entre nesta negociação de forma séria e empenhada”.
Maria Luís fez questão de lembrar que “juntos“, PSD, PS e CDS, “têm mais de 70% dos votos” expressos pelos portugueses nas Legislativas de 4 de outubro.
“Da nossa parte, é fundamental que tenhamos um Governo empossado e um orçamento discutido e aprovado quanto antes”, para evitar uma “deterioração da situação do país”. Na situação de “fragilidade” em que a economia portuguesa ainda está, esse risco existe se não se criarem rápidas “condições de governabilidade”.
EXPETATIVAS DOS ELEITORES
Ao longo de toda a entrevista conduzida por José Alberto Cravalho, Portas foi dizendo que queria “chegar a um acordo” com António Costa: “Estou de boa fé”. Mas “vi até hoje o dr. António Costa desviar o eixo de governação muito para a sua esquerda. Ponha-se no lugar das pessoas que votaram na Coligação. As pessoas sentem que o seu voto foi sequestrado”.
Portas lembrou ainda que “há uma grande diferença em termos de empenhamento e sentido construtivo entre aquilo que aconteceu nas reuniões entre o Partido Socialista e a Coligação, e entre aquilo que acontece entre as reuniões do PS com os partidos mais à esquerda”.
E, numa tentativa de reafirmar o total empenho da Coligação na corte que está a fazer ao PS, disse: “Eu fiz críticas políticas ao dr. António Costa durante a campanha. Mas nunca lhe fiz um ataque pessoal”.
“Objetivamente não obtivemos do PS um comportamento” de colaboração: “Não podemos voltar a governos de seis meses. Em economia aberta a confiança e o investimento deslocalizam-se num segundo; é um clique no computador”.
“Eu tenho a esperança de que o PS caia em si. Há 41 anos que os partidos que garantiram o progresso e a salvação do país foram o PSD, o PS e o CDS”. É neste arco que “temos que encontrar uma solução”.
Fonte: Expresso