Pensos e tampões tóxicos

Quase metade dos tampões e pensos higiénicos mandados analisar pela defesa dos consumidores de França, contêm dioxinas e agro-químicos. Investigadora portuguesa defende proibição destes produtos.

Foram analisadas 11 marcas e cinco têm contaminantes, incluindo as duas mais vendidas em França – a O.B. e a TAMPAX.

Nas análises às marcas foram encontrados vestígios de dioxinas, a substância química mais tóxica conhecida na atualidade. Foi também detetado glifosato, um herbicida relacionado com casos de cancro em zonas onde é muito usado. Resíduos de pesticidas organoclorados e um tipo de inseticida foram ainda descobertos nas análises feitas.

A revista “60 Millions de Consommateurs” diz que esta é “uma descoberta surpreendente” em produtos feitos de viscose e de celulose e, apesar dos níveis detetados serem baixos, “não pode ser considerado o risco zero. Até porque são poucos os estudos sobre a absorção sistemática destas substâncias pela vagina”.

Um médico ouvido pela revista diz que “a vagina tem uma permeabilidade muito seletiva em função das substâncias, o que tem sido bem estudado com as drogas”. Assim, face a esta realidade, deveria ser implementado o princípio da precaução.

A associação de consumidores deu o alerta para a Direção-Geral da Saúde e para o Governo de Paris. Este grupo quer regulamentos específicos para exigir aos fabricantes que façam o controlo de qualidade de modo a garantir que nenhum resíduo tóxico potencialmente perigoso está presente nestes produtos de higiene íntima. Por outro lado, é exigido aos fabricantes que sejam transparentes na rotulagem e não se resguardem no segredo comercial para esconderem a listagem dos compostos dos pensos higiénicos e tampões.

Resultados não surpreendem

Margarida Silva, professora de biotecnologia da Universidade Católica do Porto e ativista contra os Organismos Geneticamente Modificados (OGM), não fica surpreendida com estes resultados. Até porque “as dioxinas, que são as substâncias mais tóxicas produzidas pela humanidade, estão em muito produtos de consumo corrente”.

“Nós temos uma sociedade tão sofisticada que deveria ser capaz de proteger a população das coisas que são nocivas”, sublinha Margarida Silva.

Quanto à rotulagem, a ambientalista é da opinião de que “não devemos estar a rotular as coisas que são tóxicas. Os venenos proíbem-se, não se rotulam. Nós devemos rotular para garantir o direito do consumidor à informação e à escolha privada mas nenhum consumidor vai optar por coisas que estão contaminadas”.

“Este não é um caso de rotulagem, este é um caso de proibição, de legislação, de intervenção nos processos industriais para garantir que não se deixam este tipo de resíduos, que vão afetar muitas pessoas”, adianta.

Mas afinal, como vão as dioxinas parar aos artigos de higiene íntima feminina? Na resposta a esta dúvida Margarida Silva esclarece que “o algodão não vem com com dioxinas. Pode vir com glifosatos, que é o herbicida tolerante a muitas plantas transgénicas. A matéria-prima já pode vir parcialmente envenenada, depois o branqueamento do algodão, se usar cloro, vai criar dioxinas”.

Margarida Silva denuncia que “todas as pessoas na indústria sabem isso, os governos sabem isso e só não intervêm porque não há uma mobilização social que imponha um maior nível de proteção. Porque obviamente branquear com cloro é mais barato do que branquear algodão por métodos alternativos. Por isso, nós civilização, estamos a contribuir para o nosso próprio envenenamento e isso é muito lamentável”, conclui.

Fonte: TSF