Partido de Aung San Suu Kyi pede à população para se opor a “ditadura militar” em Myanmar

O partido da líder de Myanmar, Aung San Suu Kyi, detida hoje pelo Exército, apelou à população para que se oponha ao golpe de Estado e ao regresso a uma “ditadura militar”.

A Liga Nacional para a Democracia (LND), que venceu as eleições de novembro com grande vantagem, publicou um comunicado na rede social Facebook, em nome de Aung San Suu Kyi, afirmando que as ações dos militares são injustificadas e violam a Constituição e a vontade popular.

De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), terá sido a própria Aung San Suu Kyi quem “deixou esta mensagem à população”, segundo explicou no Facebook o presidente do seu partido, Win Htein.

O Exército de Myanmar declarou hoje o estado de emergência e assumiu o controlo do país durante um ano, informou um canal televisivo controlado por militares, após a detenção da chefe de facto do Governo, Aung San Suu Kyi, do Presidente do país, Win Myint, e de outros líderes governamentais.

Numa declaração divulgada hoje na cadeia de televisão do exército Myawaddy TV, os militares acusaram a comissão eleitoral do país de não ter posto cobro às “enormes irregularidades” que dizem ter existido nas legislativas de novembro, que o partido de Aung San Suu Kyi venceu por larga maioria.

As detenções e a proclamação do Exército surgem num momento em que o parlamento eleito nas anteriores eleições se preparava para iniciar a sua primeira sessão, dentro de algumas horas.

Os Estados Unidos exigiram já a libertação dos líderes detidos e ameaçaram reagir em caso de recusa.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou “firmemente” a detenção da chefe de facto do Governo de Myanmar, considerando as ações dos militares um “rude golpe” contra as reformas democráticas.

Austrália, Singapura e Japão também condenaram as ações dos militares.

Há várias semanas que os militares denunciam irregularidades nas legislativas de 08 de novembro, ganhas pela LND, que obteve 83% dos 476 assentos parlamentares.

A Comissão Eleitoral de Myanmar negou que tenha existido qualquer fraude eleitoral nas eleições de novembro.

Os militares, responsáveis pela redação da atual Constituição, detêm um grande poder no país, tendo, à partida, garantidos 25% dos lugares no parlamento, bem como os influentes ministérios do Interior, das Fronteiras e da Defesa.

Em novembro de 2020, o Centro Carter — organização criada pelo antigo Presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, que enviou observadores às eleições –, emitiu um comunicado em que considerou as eleições livres e justas.

A vitória eleitoral de Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz 1991, demonstrou a sua grande popularidade em Myanmar, apesar da má reputação internacional pelas políticas contra a minoria rohingya, a quem é negada a cidadania e o voto, entre outros direitos.

Lusa