A indecisão de alguns jovens relativamente à vacinação contra a covid-19 tem merecido a preocupação das autoridades, mas para dois especialistas o remédio mais eficaz passa por melhorar a comunicação e aproximá-la dessa faixa etária.
Por esta altura, a espera está quase a terminar para os mais jovens, mas, como também aconteceu noutras faixas etárias, nem todos estão ansiosos por arregaçar a manga e receber a primeira dose da vacina contra o vírus SARS-CoV-2.
De acordo com um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, divulgado no final de junho, 85,7% dos jovens entre os 16 e os 25 pretendem ser vacinado, mas 14,3% ainda não tinha, decidido.
Isto não significa que na “hora H” recusem a vacina, mas o número criou preocupação na opinião pública, nas autoridades de saúde e nos decisores políticos, que começaram a discutir possíveis formas de incentivar a adesão desta faixa etária.
“Nesta fase, é muito relevante não só que toda a gente seja vacinada, mas que toda a gente queira ser vacinada, confiando que isso é o melhor”, sublinhou o psicólogo Tiago Pereira, que coordena o Gabinete de Crise covid-19 da Ordem dos Psicólogos, ouvido pela agência Lusa.
Para o especialista, é fundamental que os jovens compreendam e aceitem a importância e os benefícios de serem vacinados, para si mesmos e para a sociedade em geral, e que essa mensagem seja transmitida de forma positiva, sem criar a ideia de uma espécie de obrigação.
E foi precisamente esse elemento – a comunicação – que Patrícia Hilário, investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sublinhou como central para ajudar a resolver quaisquer indecisões neste grupo.
“Penso que a estratégia mais eficaz passa pela transmissão de informação, sobretudo nas redes sociais, para transmitir uma informação que vá ao encontro dos jovens”, considerou a socióloga, que é uma das coordenadoras nacionais do projeto “VAX-TRUST” que estuda a hesitação vacinal na Europa.
No entender da investigadora, até agora a comunicação sobre o plano de vacinação parece ainda não ter conseguido aproximar-se desta faixa etária e o primeiro passo para evitar a hesitação passa por aí.
“É preciso tornar a comunicação clara, simples e acessível, e aqui as redes sociais têm um papel muito importante”, concordou Tiago Pereira, acrescentando, por outro lado, a importância de validar os receios dos jovens e de passar uma mensagem empática e positiva, que também contribua para reforçar a confiança, ao invés de um discurso negativo.
Além da confiança, um dos “três grandes cês” que associa ao processo de vacinação, o psicólogo explica que a complacência é outro dos pontos aos quais é importante responder, fazendo ver aos jovens que a sua vacinação importa para o combate à pandemia da covid-19, que não afeta só os mais velhos, e para o seu próprio bem-estar.
“Quando querermos promover a adesão a determinado comportamento, temos de o tornar muito conveniente e a verdade é que o sistema de vacinação, que está muito bem montado, não foi um sistema essencialmente montado para a população mais jovem”, acrescentou em referência ao terceiro ‘C’, considerando que na sua generalidade, da comunicação à logística, o plano de vacinação está desaproximado dos jovens.
Ainda assim, e sendo verdade que na generalidade das vacinas a hesitação vacinal tende a ser mais frequente entre os jovens adultos com maior literacia, Patrícia Hilário e Tiago Pereira referem também que, para já, o problema que se coloca não vai além das intenções.
“Acho que devemos aguardar com serenidade e confiar nas autoridades de saúde. Tenho segurança que se irá desenvolver bem todo este processo, não é algo novo e não é algo que nos deva alarmar. É apenas algo a que devemos estar vigilantes”, relativizou a socióloga.
E estas intenções, com as estratégias certas, podem mudar até chegar a hora de decidir.
Para isso, acrescenta Tiago Pereira, é preciso que as pessoas tenham a capacidade de mudar o comportamento, que tenham uma motivação para o fazer e que a oportunidade para isso seja criada.
A vacinação de maiores de 18 anos começou no início de julho, com o auto-agendamento também em contagem decrescente e já próximo dessa idade. A partir do final de agosto, o Governo estima que chegue a vez dos mais novos.
Para o coordenador da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19, não será necessário qualquer incentivo para os levar a vacinarem-se, por considerar que os jovens são responsáveis, uma confiança partilhada também pelo vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, que coordenada da ‘Task-Force’ para a vacinação.
Entretanto, na quarta-feira a Liga Portuguesa de Futebol Profissional lançou uma iniciativa, feita em parceira com o Governo e a ‘Task-Force’ para a vacinação, dirigida às faixas etárias mais novas, recorrendo a diversos elementos de comunicação (imagens e vídeo) de apelo à participação em processos de vacinação e testagem contra a covid-19.
Lusa