A ausência de oleiros, a desatualização dos equipamentos e a crise da década de 1980 levaram a Fábrica Regalado, em Ovar, a apagar os fornos em 1986, mas “cinco olhares” retratam agora as suas memórias, numa exposição de fotografia.
“Confesso que não consigo valorizar o espaço porque nasci aqui, vejo isto todos os dias e vejo com uns olhos diferentes dos que cá vêm pela primeira vez, mas, de facto, é quase unânime que as pessoas que aqui vêm ficam encantadas com o espaço”, afirmou hoje, em declarações à Lusa, o neto dos proprietários da antiga fábrica de olaria, José Eduardo Regalado.
“Cinco Olhares sobre a Fábrica Regalado”, a exposição, nasce assim de um convite a cinco fotógrafos — Fernando Andrezo, Pedro Brás Marques, João Carlos Pinto, Luís Rodrigues e José Santa Clara — que revisitam as velhas instalações fabris e as revelam, em cerca de duas dezenas de imagens, que ficam patentes no Porto, a partir de sábado.
Segundo José Eduardo Regalado, a história da fábrica remonta ao final do século XIX, mais concretamente a 1898, ano em que os seus avós paternos decidiram construir uma olaria, no rés-do-chão da casa onde viviam.
“Era algo muito antigo, muito arcaico. Inicialmente, era apenas uma olaria que fabricava vasos, jarras, alguidares e tigelas pequenas”, contou José Eduardo, adiantando que os produtos seguiam “em carros de bois” até ao horto do Porto ou às feiras das redondezas de Ovar, como a de Arrifana ou Vale de Cambra.
Durante a década de 30, chegaram a trabalhar “simultaneamente”, na fábrica, seis oleiros, sendo a maioria membros da família de José Eduardo, como o pai, os tios e os primos.
Quando o pai de José Eduardo “assumiu” o negócio, em 1935, decidiu “modernizá-lo”, comprando novas máquinas e dando início à produção de tijolos e telhas para a construção civil.
Contudo, foi entre o final da década de 40 e início da década de 50 que “tudo mudou”. A Fábrica Regalado deixava a casa dos avós paternos de José Eduardo, e instalava-se num novo edifício.
“Era uma necessidade aumentar a produção e fazer uma grande ampliação. Foi construído um edifício de três pisos para a secagem dos materiais e, no rés-do-chão foram construídos dois fornos e uma chaminé para fazer a exaustão dos fumos da cozedura”, explicou.
Apesar de não ter memória ou algum registo sobre quanto produzia a fábrica na época, José Eduardo recorda-se de que foram estas melhorias que permitiram uma maior produção, mas também maior qualidade.
“Nós vendíamos tudo o que fabricávamos. Tínhamos de facto muita qualidade, mas não tínhamos uma grande produção, aliás, a produção era limitada”, frisou.
À Lusa, José Eduardo adiantou, contudo, que o negócio “não resistiu” à ausência de mão de obra qualificada, à crise financeira da década de 80, que se fez sentir em Portugal, e à desatualização dos equipamentos e máquinas, tendo encerrado “definitivamente” em 1986.
“Estas circunstâncias fizeram com que a fábrica não resistisse e tivesse este desfecho”, referiu.
Contudo, a história da Fábrica Regalado não termina assim.
Consciente do potencial do espaço que outrora deu lugar à produção de vasos, tijolos e telhas, José Eduardo decidiu falar com os cinco fotógrafos amigos: Fernando Andrezo, Pedro Brás Marques, João Carlos Pinto, Luís Rodrigues e José Santa Clara.
“Mal começaram a disparar, percebi o quanto valorizavam o espaço”, salientou José Eduardo.
As memórias que o espaço ainda conserva, como os dois fornos e a chaminé, foram materializadas em mais de duas dezenas de fotografias que constituem agora a exposição “Cinco Olhares sobre a Fábrica Regalado”.
A viagem pelo espaço à Fábrica Regalado pode ser vista a partir de sábado e até ao dia 26 de novembro, na Casa do Vinho Verde, no Porto.