Os Mercados Municipais da Praia de Mira e Mira

Este é um tema que, nos tempos que correm, merece uma reflexão profunda. É portanto oportuno refleti-lo de forma racional e desprovida de ideias pré-concebidas sejam de matriz ideológica ou outras.

Os mercados são, pela definição mais elementar, locais de trocas. Com a evolução das sociedades, trocam-se bens por valores pecuniários e estão sujeitos à lei da oferta e da procura que, na maioria dos casos, condiciona o seu sucesso.

Começando pelo Mercado Municipal da Praia de Mira é importante termos em conta que representa um centro de custos não negligenciável para o Município e que nunca cumpriu a função para o qual foi construído: proporcionar ao Município a dinamização do comércio de produtos endógenos provenientes do mar ou da agricultura e constituir um elemento valorizador da Praia de Mira como polo turístico de excelência que é.

Vale a pena refletir um pouco. Os custos de funcionamento são significativos se encararmos os salários dos trabalhadores autárquicos necessários para assegurar o seu funcionamento, os custos de funcionamento dos equipamentos de refrigeração e outros equipamentos e, ainda, a sua manutenção e limpeza. Se visitarmos o Mercado nesta altura do ano encontraremos três ou quatro bancas de produtos em funcionamento. Durante todo o Inverno passado, funcionou com apenas uma banca de peixe, uma de frutas e uma de pão. O número de compradores era ínfimo. Questionamos? Vale a pena gastar assim quantias avultadas do Município quando falta dinheiro para tanta coisa?

Importa também refletir o porquê deste estado de coisas. Em primeiro lugar, porque é que os mercados municipais do concelho vizinho funcionam e este não. Haverá por certo muitas razões mas podemos ponderar algumas. Desde logo a sua dimensão dos mercados vizinhos e o facto de a eles estarem associados espaços de feira. Mesmo assim funcionam em pleno apenas aos fins-de-semana. Depois a sua localização geográfica: o número de agregados populacionais capazes de fornecer potenciais clientes aos mercados de Febres e Tocha, por exemplo, é imensamente maior. O mesmo acontece na Costa Nova que recebe a população das cidades de Ílhavo e Aveiro. Depois, ainda o facto de, em qualquer destes mercados se encontrarem fatores com capacidade concorrencial em relação às médias e grandes superfícies. No mercado da Costa Nova encontramos produtos da Ria e do mar que dificilmente encontramos em qualquer hipermercado, na Tocha e Febres encontramos não só produtos alimentares a preços competitivos mas também outros produtos que podemos encontrar em qualquer feira da região desde vestuário, calçado, ferragens, viveiristas, etc. Este não é o paradigma do nosso mercado. Por outro lado a ideia de que o mercado poderia ser o local privilegiado para a venda dos produtos de pequenos agricultores parece-me também desfasada da realidade atual. Até porque, a exemplo de outros agricultores da Europa, da Suíça por exemplo, os nossos agricultores estão já a adquirir o hábito de venderem os produtos da terra nas estradas que bordejam os terrenos em que as produzem. O comprador compra assim um produto com certeza na origem, diferente do que pode encontrar em qualquer supermercado, e o agricultor vai aproveitando o tempo entre vendas para ir executando alguns trabalhos. No que toca aos produtos do mar é fácil verificar que os comerciantes da área preferem vender os seus produtos à beira mar. Se visitarmos o mercado da Praia de Mira em busca de peixe arriscamo-nos a não encontrar uma única banca de peixe aberta. O único período do ano em que este mercado se anima é a época balnear. É assim desde que foi construído…

Perante esta realidade importa refletir se o dinheiro ali gasto justifica uma qualquer função social. Justificar-se-á eventualmente três meses no ano.

Avancemos para uma análise ao putativo mercado municipal de Mira. Importa referir que se tratou de uma infraestrutura onde ainda hoje se pode verificar que, apesar de inaugurada nunca foi dotada de energia elétrica, não dispunha de unidades de frio tratando-se de um conjunto de alpendres onde, hipoteticamente, se venderiam produtos da terra em bancas de que também nunca foi dotado. Seria interessante perceber se quem o mandou construir teve mesmo intenção de o pôr em funcionamento uma vez que dispôs de tempo para o efeito e não o fez. Perante o fraco retorno do mercado da Praia de Mira, tanto vertente económica como social, entendeu o executivo do Dr. Mário Maduro convertê-lo numa infraestrutura mais útil e, numa estratégia que englobava uma nova estratégia urbanística para a vila, decidiu convertê-lo nas novas instalações da Casa da Criança. Para o efeito, elaborou um projeto que mereceu a aprovação quer do Ministério da Educação quer da Segurança Social e candidatou-o aos fundos comunitários tendo obtido uma aprovação em sessenta por cento da obra através do POEFDS. Só depois avançou para obras. O executivo do Dr Reigota entendeu pura e simplesmente parar a obra e perdeu-se o financiamento. Ficámos à espera de ver então o mercado municipal de Mira a funcionar. Nunca aconteceu. Foram anunciados pelo executivo do PS muitos outros fins para aquela obra mas nunca em repô-la como mercado. Por que não acreditou ou porque tinha a certeza do fiasco?

Vivemos na Europa tempos difíceis. Como país periférico fomos dos mais atingidos. É tempo de pensarmos racionalmente. Obviamente gostaríamos de ter um mercado, um estádio, um gimnodesportivo em cada freguesia. Mas fica a pergunta: isto faria de Mira um concelho economicamente sustentável?

Fica a dúvida… ou talvez a certeza. Não.

 

A Comissão Política do PSD de Mira