Os mercados locais são um meio propício para a concentração e distribuição de artigos frescos: peixe, frutas, verduras, entre muitos outros. Não só é um ponto central de encontro mas um local que faz girar a economia e movimenta as populações.
Em Mira não temos isso. Na Praia não temos muito disso. Não precisamos apenas das feiras mensais, precisamos dos mercados a funcionar com a venda dos legumes biológicos do pequeno quintal, o peixe acabado de pescar, com o regatear tão característico do cliente e do vendedor, enfim uma mistura saudável de pessoas e hábitos.
Para semear precisamos da esperança de que, semeando, poderemos colher e que essa colheita acrescentará qualidade ao nosso celeiro, adega ou dispensa. Mas os nossos produtores agrícolas não podem ter essa esperança do encontro e partilha dos seus produtos com os vizinhos e conterrâneos. Podem ter a teimosia de continuar as sementeiras tradicionais, teimarem em ter as suas novidades e tradições, mas não conseguem fazê-los chegar à nossa terra, aos vizinhos e conterrâneos.
Na nossa terra não temos um mercado local disponível para que a colheita dos nossos produtos possa ser uma mais-valia. A nossa terra não tem uma feira tradicional para não-comerciantes, onde as novidades e tradições (artes e ofícios incluídos) possam ser promovidos e divulgados. Onde se podem disponibilizar os produtos da nossa terra e das nossas artes e ofícios? Mercado municipal não existe, feira popular e mercado sem as regras apertadas não se vislumbra. Mira está na delicada e irracional situação de, quando o calendário nos desafia para os sabores tradicionais, termos de procurar, nos concelhos vizinhos e nos seus mercados, os produtos gandareses de que necessitam as nossas memórias e sabores.
Por outro lado, os nossos melhores produtos, ainda produzidos pelos nossos persistentes produtores, não podem chegar aos nossos desejos porque não há local e forma de os fazer chegar a quem os deseja e procura.
Por vezes vimos as nossas associações e ativistas culturais em feiras e mercados tradicionais, fora de portas, a promover os nossos torresmos, as nossas chouriças e sopas, as favas e caldeiradas, as nossas frutas e legumes, o nosso pão e broa, os doces e salgados e outras iguarias e teimosias que os nossos conterrâneos e gandareses de gema teimam em não esquecer! Mas e na nossa terra?
Para a promoção das nossas riquezas gastronómicas e produções agrícolas tradicionais é fundamental a organização de eventos tradicionais. A economia local, assente nas riquezas tradicionais, é sustentável em qualquer parte do mundo. Nas capitais europeias e grandes cidades, em todas elas, existem mercados de produtos locais diários, semanais e mensais, onde os produtores podem, num regime de exceção e proteção a regras comerciais mais clássicas e exigentes, promover os seus produtos genuínos e típicos. Em várias terras e concelhos do nosso país acontecem eventos cíclicos de promoção, apresentação e venda dos produtos locais em mercado local, mas também em feira e festa.
Estamos em Maio. Um provérbio popular avisa-nos que Favas, maio as dá, maio as leva! Pois em Maio é que canta o Gaio. Mas em Mira as favas vêm de fora e o mercado não canta!
Os produtores e agricultores da nossa terra – os poucos que ainda vão fazendo as suas hortas de novidades estão destinados à extinção. Para quê produzir se essa produção não tem valor comercial? Vamos vendo os pequenos quintais a desaparecer e com eles toda uma cultura de produção e economia doméstica rural. Exceção para a feiras dos Grelos na freguesia dos Carapelhos! O resto do concelho não tem onde promover os seus produtos. Os nossos visitantes e turistas e mesmo os habitantes locais que desejariam obter os frescos e as novidades da terra têm que se deslocar aos concelhos vizinhos para as obter.
Mas porque se opõem os nossos autarcas ao desenvolvimento da nossa terra? Porque não disponibilizam aos mirenses as ferramentas para a sua afirmação e valorização social e económica?
O mercado da Praia carece de requalificação e de um regulamento de utilização claro que facilite o acesso aos produtores da nossa terra. O mercado de Mira não existe! Porque em Mira as soluções não aparecem e as que aparecem funcionam mal? A culpa é dos autarcas!? E o Povo pá?!
José Carlos Garrucho, Vereador Independente do MAR