Os melhores com a bola nos pés são portugueses

Pela primeira vez, um país vê eleitos no mesmo ano os melhores jogadores do Mundo de futebol, de futsal e de futebol de praia. A honra cabe a Portugal e a três estrelas que dão cartas nas respetivas modalidades.

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A eleição de Madjer como melhor jogador do Mundo de futebol de praia, numa gala da FIFA realizada no sábado passado no Dubai, permitiu a Portugal fazer um “hat-trick” de prémios inédito e histórico, depois de Cristiano Ronaldo e Ricardinho também terem sido galardoados com os prémios de melhores do ano no futebol e no futsal, respetivamente. É, sem dúvida, um período de ouro a nível individual para os três jogadores, mas também para o país, protagonista de um feito extraordinário, do qual nem potências destas modalidades, como o Brasil, a Espanha ou a Argentina, se podem gabar.

“É um alinhamento dos astros, porque estes jogadores podem continuar a ser muito bons nos próximos anos e não ganharem os prémios, mas coisas destas não podem ser coincidência, nem sorte”, afirma, ao JN, o sociólogo João Nuno Coelho, segundo o qual há duas pistas importantes a seguir no caminho deste sucesso: “Por um lado, o futebol tem uma importância social brutal em Portugal, capaz até de asfixiar outras áreas e desportos. As crianças crescem com o sonho de serem jogadores e, quando começam a praticar a modalidade, têm uma preparação específica e um trabalho de base que dantes não existiam. A outra explicação passa pela qualidade dos treinadores portugueses. Considero que há um nicho de excelência em Portugal ao nível das equipas técnicas. Há dez anos, víamos por esse país fora os chamados “carolas”, que treinavam os miúdos com muita vontade, mas sem preparação nenhuma. Agora, vemos qualidade no trabalho”.

Agostinho Oliveira, ex-selecionador nacional, destaca o talento inato dos jogadores portugueses, como fator potenciador de sucessos individuais como os deste ano. “A qualidade individual existente nas modalidades ligadas ao futebol, como são o futsal e o futebol de praia, permite que estejamos sempre mais perto de proezas destas. É com o talento que se combate a falta de condições, que tantas vezes nos travaram no passado. Será difícil que volte a acontecer, mas não estaremos nunca muito longe”, refere, ao JN, o atual conselheiro da federação chinesa de futebol para o setor da formação, que vê com naturalidade o facto de Portugal estar quase sempre mais perto do êxito a nível individual do que coletivo.

“No nosso ADN está a genialidade a nível técnico, mais do que o domínio das vertentes táticas de um jogo, muitas vezes decisivas para os resultados. Somos mais criativos e menos coletivos”, sublinha Agostinho Oliveira, sem deixar de pensar que a presença constante das seleções portuguesas nos últimos grandes eventos internacionais também contribuiu para a evolução dos jogadores: “O grande trabalho feito nas últimas décadas pelos clubes e pelas seleções estimulou o talento e fez com que as coisas se soltassem”.

João Nuno Coelho considera que, apesar de não se vislumbrar outro Cristiano Ronaldo no futuro próximo, Portugal está a conseguir formar jogadores que lhe permitam um futuro risonho: “Estamos a ver novamente uma vaga de fundo nas seleções jovens, capaz de fazer surgir talentos que, sem o nível estratosférico de Ronaldo, podem atingir níveis muito altos. Esta tendência vai no sentido de provar que estes prémios não acontecem por acaso”.

Ronaldo

Três vezes Bola de Ouro, CR7 é um dos ícones do desporto mundial e, nos últimos anos, tem protagonizado com Messi uma das mais belas rivalidades que o futebol já teve. Melhor marcador da história do Real Madrid e da seleção lusa, tem lugar assegurado entre as lendas do desporto-rei e o estatuto de melhor futebolista que alguma vez Portugal produziu. Felino na busca do golo, é o único jogador de quem se diz estar em crise se passar dois ou três jogos sem marcar. A grande questão do momento é se acabará a carreira em Madrid.

Ricardinho

A alcunha de “mágico” tem de vir de algum lado. Ricardinho dá espetáculo a jogar futsal e até do Japão já lhe acenaram com milhões para o ter por perto. Agora em Espanha, no Inter Movistar, depois de passagens pela Rússia e do brilhantismo que atingiu no Benfica, o gondomarense a quem na infância chamavam Maradona voltou a ser considerado o melhor do Mundo, tal como em 2010. Protagonista de golos impossíveis, muitos dos quais batem recordes de visualizações no Youtube, disse nesta semana que prefere estar no topo do futsal do que ser mais um no futebol. Bingo…

Madjer

Aos 39 anos, o capitão da seleção portuguesa que se sagrou campeão mundial de futebol de praia, em julho passado, está em vias de chegar aos mil golos na carreira. Isso diz tudo sobre a qualidade de um jogador que começou no futebol e que um acidente de mota obrigou a uma paragem que levou à aventura nas areias, em 1997. Madjer, como lhe chamam por causa da admiração pela lenda argelina do F. C. Porto, é o máximo marcador de sempre em Campeonatos do Mundo e um líder que se assume nos momentos difíceis. Na semana passada, foi eleito o melhor jogador do planeta. O reconhecimento tarda mas não falha.

Fonte JN