Certamente que já viu pessoas ganharem alguns quilos depois de fazerem um tratamento para a depressão. Esta perceção tem levado muitas pessoas a pensar que tomar antidepressivos é sinónimo de engordar (e muito!), levando muita gente a evitar a toma de antidepressivos prescritos pelo seu psiquiatra.
Esta ideia tem o seu quê de mito e de realidade. De facto, alguns antidepressivos têm como efeito secundário o aumento do apetite e, consequentemente, o aumento do peso. Isto acontece essencialmente com os antidepressivos mais antigos. Há uns anos, o tratamento da depressão implicava quase invariavelmente um aumento exagerado de peso. Este efeito secundário provocava problemas não só na saúde física mas também na saúde mental. Diminuía a auto-estima da pessoa, agravando os sintomas depressivos. No entanto, mais recentemente, foram criados novos antidepressivos que não têm efeitos diretos no peso.
Quer isto dizer que, se tomar esses novos antidepressivos não aumento de peso? Não necessariamente. A depressão é acompanhada, muitas das vezes, por uma diminuição do apetite e do peso, pois perde-se o prazer de comer. Quando esta é tratada adequadamente, com ou sem antidepressivos, o apetite e prazer em comer são novamente recuperados, levando a pessoa a recuperar o seu peso “saudável”. Quando a depressão cursa com aumento do apetite, a toma dos antidepressivos pode, inclusivamente, levar a uma diminuição deste resultando na perda de peso.
Dr. Pedro Oliveira
– Médico IFE de Psiquiatria no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC);
– Assistente convidado da cadeira de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC);
– Investigador no Serviço de Psicologia Médica da FMUC;
– Docente da cadeira de Psicofarmacologia no mestrado em Saúde Mental da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC);
– Psiquiatra na clínica Hominis na Praia de Mira.