O PS e o PSD reforçaram hoje (ontem), em três concelhos onde são oposição, as críticas à criação da Águas do Baixo Mondego e Gândara (ABMG), fazendo antever que este assunto marcará as campanhas das próximas autárquicas.
“Havia outras formas de agregação. Se fosse uma mais-valia para os munícipes, não faríamos política de terra queimada”, disse Francisco Reigota.
O também presidente da Junta de Freguesia da Praia de Mira, que concorre a novo mandato, recordou que há três anos, no início do processo para a constituição da ABMG, “uma boa parte das pessoas deu o benefício da dúvida”.
“Na Câmara e na Assembleia Municipal, o PS votou contra. Havia necessidade de fazer investimento e depois uma retificação dos tarifários”, preconizou.
Segundo Francisco Reigota, “começou logo tudo a correr mal”, com a entrada em funcionamento da empresa intermunicipal, em 2020, já que esta e o executivo de Raul Almeida “quiseram subir automaticamente os tarifários” da água, saneamento e lixo.
“Não concordávamos que as tarifas subissem de forma abrupta e sem haver investimento”, explicou o dirigente do PS, que apresenta o advogado Licínio Palhavã como candidato à Câmara.
Para Francisco Reigota, “o mais grave é que, neste período, as câmaras meteram na empresa pessoas da confiança política dos três presidentes, com ordenados elevados e sem concurso público”.
Há dois meses, a Procuradoria-Geral da República (PGR) revelou à Lusa que a ABMG estava a ser investigada pela admissão de nove funcionários sem concurso.
“Confirma-se a instauração de inquérito, o qual corre termos no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional de Coimbra”, disse na altura uma fonte do gabinete de imprensa da PGR.
Também Sónia Vidal, líder do PSD de Soure, considera “inaceitável uma empresa de capitais públicos admitir nos seus quadros nove funcionários sem recurso a concurso”.
“Não consigo entender, nem conseguem explicar aos sourenses a razão de pagarmos mais por um serviço que tem demonstrado ser manifestamente insuficiente face às necessidades”, declarou à Lusa.
A também candidata do PSD à Câmara de Soure, presidida pelo socialista Mário Jorge Nunes, criticou a alegada “falta de transparência na gestão” da empresa, o que, na sua opinião, “serve atualmente como um meio para presentear amigos com favores”.
“Mentiram-nos dizendo que iríamos, com toda a certeza, usufruir de um melhor serviço a preços mais acessíveis. Não podemos tolerar que nos vendam quimeras baseadas em inverdades”, acusou.
Em Montemor-o-Velho, a Câmara Municipal é presidida por Emílio Torrão, do PS.
Alexandre Leal, do PSD, recordou à Lusa que os três vereadores de uma coligação com o CDS-PP votaram contra a criação da ABMG, numa reunião do executivo realizada em 04 abril de 2018.
“Uma decisão (…) com a qual não nos revemos e sobre a qual temos enorme preocupação”, segundo a declaração de voto desses eleitos da oposição.
O vereador defende que “deveriam ter sido pelo menos tentadas outras soluções”, envolvendo “empresas já existentes e eventualmente outros municípios”.
“Ficámos prejudicados. Sempre considerámos que esta não era a melhor opção”, disse.
Para Alexandre Leal, a ABMG “é uma empresa com demasiados dirigentes”, formada “numa lógica de criação de determinado tipo de empregos”.
“A estratégia desvia-se das principais preocupações do concelho”, com “a fatura a ser suportada pelos munícipes”, lamentou.
O conselho de administração da ABMG tem como presidente Mário Jorge Nunes, em representação do município de Soure.
Lusa