OPINIÃO QUE CONTA: “Valha-nos o jornalismo e o velho transistor”

29.04.2025 –

“Ontem, sem que nada o indicasse, o país estagnou às 11h32 perante um apagão elétrico, até então, inédito. De um momento para o outro a interconexão que torna o mundo, ou uma parte dele, numa “aldeia global”, como propõe McLuhan, deixou de ser o sustentáculo em que nossa sociedade e os seus ínfimos rendilhados estão assentes. Afinal, o alicerce da toda poderosa modernidade é algo simples de derrubar. 

E, hoje, quando ainda estamos todos a recuperar deste abalo, é-nos difícil supor a nossa existência omissa no seu palco tecnológico. Sentimos que a tecelagem digitalmente mediada das nossas interações nos dá uma segurança ontológica em torno da qual a nossa existência sociotécnica está balizada. Afinal, mesmo sendo hoje seres com a ilusão do mundo estar acessível através de um toque, perante a redução da tecnicidade que norteia a nossa existência, ainda estamos a dois passos do célebre hominídio do filme: “2001 – Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick.

Disse, hoje, Francisco Sena Santos no sua crónica radiofónica “Um dia no Mundo”, emitida na Antena 1, que: “aprendemos há cinco anos, com a pandemia COVID, que não estávamos devidamente preparados para enfrentar aquela surpresa”. Ontem, como ficou evidente, também não! Porém, para além da ilusão da obtenção desenfreada de mantimentos, ontem sentimos a imperiosa necessidade de se aceder a um meio, um aparelho e ao resultado do exercício sério de uma profissão. Procuramos avidamente esse meio de massas verdadeiramente social e ubíquo que é a rádio, ontem também difundida através do velho transistor, para ouvir informações fidedignas acerca do que estava a acontecer. 

Assente numa matriz que já não se via há muitos anos, este meio tentou ligar-nos às inúmeras particularidades que iam sendo narradas acerca de um assunto cuja dimensão era, até ontem, inédita e desconhecida. Ontem não foi só a rádio pública a cumprir serviço público, foram quase todas. A informação foi o que deve ser – o cumprimento de uma missão executada com rigor e isenção. “Um bem”, como disse Sena Santos… Por várias horas a “lareira catódica” foi apagada e hoje pode dizer-se que ontem: “rádio killed the video star”… afinal, os The Buggles estavam errados…”

Luís Miguel Pato 

Profissional e docente ensino superior na área da comunicação