Na posse em suporte de papel, o jornal tri-semanário(publicado às terças-quintas-sábados) GAZÊTA DE COIMBRA” publicação nº 5015-Ano 36 -terça-feira 20/8/1946-cujo Diretor e Proprietário João Ribeiro Arrobas, tendo como Editor Diamantino Ribeiro Arrobas e Administrativo Augusto Ribeiro Arrobas e sua redação e administração, é citado no Pátio
da Inquisição, nº 6 em Coimbra, Para recordar e sentir toda uma vigência doutros tempos, sou a pronunciar, a saber:
A gazeta de Coimbra, nas suas páginas centrais, dedica uma reportagem sobre CANTANHEDE, incluindo alguma publicidade, não deixando de ser interessante, considerando os tempos atuais e os 72 anos passados, demonstra bem as potencialidades jornalísticas e poder da comunicação social, ao tempo, comparadas com o atual.
No centro da 2ª página, publica uma lindíssima e interessante fotografia do centro da vila, avistando-se a magnífica e vistosa “Igreja Matriz”; a “Praça da República” com umas grandes palmeiras; uns antiquíssimos (novos na altura) candeeiros de iluminação pública; um carro de bois e um carro de 3 rodas; o jardim (parque) notando-se ao centro, um majestoso “corêto” para concertos musicais e um altíssimo poste com fios de telefone.
No editorial sobre Cantanhede, a jornalista na sua crónica, narra algumas potencialidades económicas. A prosperidade da indústria da Cal em posição destacada, seguindo-se de imediato a da Madeira; nas indústrias mecânicas, como prova avalisada a “Auto-Mecânica de Cantanhede, ldª”; a“ Electro Mecânica de Cantanhede, Ldª “, como firma respeitável e
concessionária de fornecimento e distribuição de energia elétrica nos concelhos de Cantanhede, Mira Montemor-O-Velho; a “Recauchutagem TOTA” como firma próspera e inconfundível; nas modalidades bancárias, “Duarte Reis & Sobrinho Sucs”- firma fundada em 1880; na arte de canteiro como construtores de capelas e mausoléus, “Elias Lopes &
Sobrinho”; o “ Café Central” como expoente máximo em serviço de bar e restaurante; enfim uma reportagem digna de registo e de curiosidade.
De relevo também e com grande destacado título “O Assegurado Futuro de uma Indústria” uma grande entrevista sobre as caves “ MEP”(Manuel Evaristo Pessoa) datada de 7/agosto/1946 e assinada por Sousa Branca, a uma personagem natural e residente no lugar e freguesia de Pocariça-FERNANDO GABRIEL PESSOA.
Descreve na referida entrevista, que o projeto do edifício e perfurações das caves “MEP” é de autoria do Engº Pereira Leite, cuja direção das obras foram igualmente confiadas a este técnico e profissional, prevendo-se a sua concretização para os finais do ano civil de 1946.
Dando bastante realce às caves “MEP”,(Manuel Evaristo Pessoa) sita na quinta do Poço Lobo em Pocariça, propriedade dos irmãos Pessoa, a jornalista/entrevistadora abeirou-se dos afamados vinhos da Pocariça, nomeadamente do branco, tendo o entrevistado informado, de ter delegado a incumbência no seu administrador o Sr. Manuel Pardo Rosa, sendo este também técnico adjunto no serviço laboratorial e verificação, sob a superior e competentíssima direção do Engº Agron. Mário Pato. Informação deste técnico, conhecedor profundo da matéria, que os vinhos brancos da Pocariça, são insuperáveis em qualidade pelo seu rico aroma “bouquet” prestando-se como nenhuns, à espumatização, sem como é óbvio, excluí-los dos melhores tipos apropriados para a mesa e os tintos, apresentam-se com características muito semelhantes e confundíveis aos do Dão, Colares e Bordeaux . Mais acrescentava, que todas estas magníficas castas, foram importadas de França pelo Sr. Manuel Evaristo Pessoa, avô dos irmãos Evaristo e Fernando Pessoa, sendo este um apaixonado pela agricultura e viticultura, que usufruindo de uma grande capacidade económica e financeira, por conseguinte, uma pessoa muito abastada, não se poupava a despesas quando julgasse satisfazer a melhoria de momento, tendo em vista a qualidade.
Assim passados 72 anos sobre o que era notícia num órgão de comunicação regional escrito, julguei depois de ir ao fundo do baú, fazer reviver notícias de factos referentes a esta região, nomeadamente à vila de Cantanhede, hoje cidade e a esta minha aldeia de Pocariça, terra que me viu nascer e crescer, que ombreio com toda a minha estima e bairrismo, assim como cidadão do concelho de Cantanhede, que prezo.
Fernando Rufino Leitão Neto