Texto de autoria do “mirense” António Lontro:
“Sim, a realidade é essa mesmo. Se olharmos para a história com grande sentido de minuciosidade, reparamos que de todas as crises pelas quais a humanidade passou até agora saíram grandes oportunidades de mudar o paradigma dos hábitos da sociedade em todos os aspectos.
Do ponto de vista das economias nacionais e mundial, muita coisa se alterou nos últimos 100/120 anos. Desde o final da 1ª Guerra Mundial seguido pela pandemia “Influenza” e alguns anos mais tarde, pela crise provocada pelo crash bolsista ao mesmo tempo que o fim do padrão-ouro, o dólar como “moeda única mundial”, as crises petrolíferas (e como sofremos com estas e, que por curiosidade, estamos a vivenciar uma há um par de meses), as crises bancárias, as crises na construção civil, etc… Até chegarmos aos dias de hoje, a história económica mundial é feita de crescimentos, crises e seguintes crescimentos e, novas crises. Um verdadeiro loop, onde a mão invisível capitalista de Adam Smith faz festinhas à cobra que esfomeadamente morde a sua cauda. Durante este último século, várias grandes empresas morreram por não conseguir acompanhar estas mudanças, outras nasceram e outras cresceram até ao nível mundial. Ficou assim, mais que explicito que a Teoria da Evolução das Espécies de Darwin também se aplica ao mundo empresarial.
Do ponto de vista político, são enumeras as alterações nos últimos anos. Vou enunciar apenas algumas que trouxeram enormes mudanças até ao sistema actual em que vivemos e que tanto tem de admiradores como de críticos. Comecemos pela afirmação de novos países, a implementação das repúblicas e democracias, a 1ª Guerra Mundial, o fim de grandes impérios, a ascensão do nazismo, do fascismo e do leninismo (entre outros), a 2ª Guerra Mundial, a criação da Organização das Nações Unidas, a primeira e a segunda vaga de descolonização e consequente ascensão de regimes de ditaduras em vários países descolonizados, a retirada à força do poder a ditadores (e não só) em vários países durante os últimos 70 anos, a guerra fria, as guerras politicas, a criação da União Europeia, a adesão de 28 países e a tão recente saída de parte do Reino Unido, a globalização e as suas consequências boas e outras menos positivas, a primavera árabe, a contínua actualização e reconhecimento de Direitos e Deveres para todos, o combate à corrupção e às drogas, o 11 de Setembro e a guerra global ao terrorismo, etc…
Do ponto de vista tecnológico, podemos referir a continua evolução da própria tecnologia, levando-nos em 120 anos a avançar vários capítulos e aproximar-nos da Era das viagens Espaciais, do reconhecimento Interestelar e das viagens à velocidade da luz. Não há muito tempo, estavam os nossos avós e bisavós a “descobrir” o carro aquando a sua linha de produção em grande escala e o aperfeiçoamento do motor de combustão. Surgiram também os aviões, as viagens comerciais de avião, a televisão, os filmes, a tecnologia 3D, a era digital, a internet, a fibra, o telemóvel, o smartphone, o 3G ao 5G, o computador e portátil, a inteligência artificial, as viagens à lua, os satélites espaciais, o aperfeiçoamento de submarinos e de todos os produtos relacionados com a guerra. A evolução da tecnologia aliada à medicina e tudo ao que à própria medicina está ligado. Tantos exemplos poderia enunciar mais e outros mais ainda, onde a tecnologia está ligada à longevidade, saúde e bem-estar do Ser-Humano.
Do ponto de vista social, existe uma tendência para achar que tudo está igual, pois para quem tem menos de 45 anos, “pouca coisa viu a acontecer”. No entanto, todos os eventos acima referidos e outros que não referi, criaram várias alterações à forma como cada sociedade ia vivendo e que conduziram ao momento actual. Estes eventos tiveram varias influências às liberdades, direitos e deveres que actualmente são reconhecidos e implementados tanto pelos governos estatais como pelo sistema internacional nesta longa luta da Humanidade. Refiro-me aos direitos das pessoas com discapacidades, o direito à guerra e a se defender, o direito ao aborto, o direito das mulheres, das crianças, dos idosos, da inteligência artificial, dos prisioneiros e do espaço. Também não podemos esquecer o direito à propriedade privada, o direito às liberdades – como a liberdade de expressão e de religião, o direito dos refugiados e a tantos outros mais. Também se conquistou o reconhecimento da jurisprudência de cada cidadão, a igualdade de género, da comunidade LGBTI+, o casamento homosexual, etc. Direitos esses conquistados por “alguns” e com o suor e sangue dos seus cidadãos nas várias manifestações radicalistas e pacifistas do século. Surgiram também as redes sociais, as fake news, a nova era de “escravatura” – a laboral (estágios não-remunerados) e a digital. Esta ultima, com consequências directas na baixa auto-estima e distúrbios ligados ao exagero da cultura dos likes. Por outro lado, surgiu a proximidade de tudo e todos que estavam longe e das várias oportunidades de contacto social, da criação de negócios online e, inclusive, o acesso a todos ao ensino via internet. Se há algo que gosto de pensar é o quanto benéfico será para o crescimento intelectual da Humanidade quando nas províncias mais inóspitas existir acesso a um computador, à internet, às bases de informação e vídeo-aulas.
Se pensarmos que tudo isto aconteceu em 100/120 anos, com repercussões directas e outras que levaram mais tempo a atingir… Ou se pensarmos que a medicina de hoje não estaria tão avançada se as atrocidades realizadas pelos médicos nazis na 2ª Guerra Mundial não tivessem acontecido, ou que a tecnologia não estaria igual à de hoje não fossem as constantes guerras ou, que as redes sociais não existiriam se a internet não tivesse sido um projeto militar… Já dizia Lavoisier – “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, e aplicada ao presente, tudo se foi transformando em direcção a um futuro estranho mas curioso para quem tem 50 anos e surpreendente para quem tem 5. A esta actual pandemia, junta-se o distanciamento social e tudo o que vai contra a nossa natureza animal e social. Junta-se também a crise petrolífera, as alterações climáticas, o degelo e a consequente subida das águas e diminuição de territórios nacionais, o desmatamento, os futuros incêndios, as crises migratórias, os choques de ideais políticos, a crise financeira e bolsista, a crise da industria, da hotelaria, de todo o comercio e de todas as outras áreas que não refiro.. parece que está tudo perdido, não é?
Mas, se nada se perde e tudo se transforma, então… o que podes tu fazer de diferente? O que podes tu criar e transformar? Que ideias loucas tiveste ou tens que se poderiam tornar em algo benéfico para a sociedade a curto, médio e/ou longo prazo? O que está ao teu alcance hoje de fazer ou iniciar? Que oportunidades encontras no meio deste turbilhão de emoções? Que dificuldades encontras neste momento e que podes usar isso para te impulsionar em algo novo? Como quererás tu viver a tua vida a partir deste momento? Em que áreas te podes finalmente debruçar e dedicar toda a tua paixão? De que tens receio e por que outra oportunidade vais esperar se não esta?
Estamos numa nova era, a era da reafirmação digital. E, aquilo que posso afirmar é que nunca ninguém viveu isto da forma como qualquer um de nós está a viver. Então, como pretendes viver este momento e o que tens a ganhar com este mega-acontecimento mundial? Como podes ser ainda mais positivista? Como podes começar a viver mais de acordo com os teus valores? Pensa, e pensa muito, pois esta é uma oportunidade de ouro e um campo novo por desbravar. Essas ideias irão surgir e, com a força de viver que existe dentro de cada um de nós, iluminarão os audazes e destemidos e os encaminharão a criar e prosperar numa futura nova realidade politica, económica, sócio-cultural e tecnológica idealizada e criada por nós, agora. Em todas as crises existem oportunidades, e, esta “crise”, é a tua oportunidade! Aproveita-a, se não for agora, quando será?”
(António Lontro – 22 de Abril de 2020)