As alterações climáticas têm sido notícia em todo o mundo pelas greves estudantis, pelas manifestações em várias cidades e pela espera de decisões ambientalmente conscientes de quem governa. Existem grupos de pessoas que já tentam mudar os seus hábitos diários para se tornarem mais amigos do ambiente, desde a escova de dentes que utiliza ao tipo de alimentação que escolhem. E é mesmo aqui que este artigo se vai incidir: na alimentação.
O vegetarianismo e o veganismo são palavras já bastante conhecidas no nosso quotidiano e a primeira baseia-se numa alimentação essencialmente vegetal (exclui carne, peixe e pode mesmo excluir derivados de origem animal) e a segunda, mais drástica, acrescenta à equação a exclusão de todo o tipo de práticas que envolvam a exploração animal – como o uso de roupa de lã ou de produtos testados em animais. Bem, como se trata de um artigo de opinião e não tenho carteira de jornalista, estou livre de dizer que não concordo com nenhuma. O Homem, como espécie, é omnívoro e penso que devemos permanecer assim por respeito à própria Natureza. Então e afinal o que é o climatarian? Bem, já lá vamos.
O conceito surgiu em 2009 mas só em 2015 é que surgiu nas novas palavras de comida do jornal norte-americano “The New York Times” e significa “alguém que ajuda a salvar o planeta através das escolhas alimentares; tipicamente cortando na carne e outros alimentos com uma elevada pegada de carbono.” Ou seja, os climatarians não eliminam a carne, peixe e derivados de origem animal da sua alimentação, mas optam por fazer escolhas saudáveis, tendo em conta a origem, a sazonalidade e o impacto que o alimento tem no ambiente. Por exemplo, os climatarians podem comer carne de vaca (mesmo sabendo que a carne de vaca pode chegar a gerar 20 mil gramas de dióxido de carbono por quilo) mas vão reduzir o número de vezes que a consomem e, quando a consomem, preferem carne de espécies autóctones (como a carne da vaca-arouquesa) e de pequenos produtores, diminuindo os custos energéticos no transporte e contrariando o apoio às produções em massa de gado. Tudo se baseia no equilíbrio.
No fundo, o que interessa a um climatarian é saber a viagem que os alimentos fizeram para chegar aos mercados locais (devido à emissão de gases do efeito de estufa no transporte), reduzir o consumo de carne e de peixe, mas garantir que, quando são consumidos, provêm de criações mais sustentáveis e com menos exploração animal. Também é importante escolher alimentos sazonais e produzidos de forma responsável e utilizar todas as partes dos alimentos. A casca da banana, por exemplo, é rica em nutrientes e pode ser usada para fazer chá ou mesmo um bolo.
Se pensarmos bem, o climatarian é alguém que nos é muito familiar: o pequeno agricultor português de antigamente (não?). Tem uma dieta mediterrânica, saudável e equilibrada (segundo a nossa roda dos alimentos), consome o que produz – desde vegetais a animais – (e não produz nada mais porque as condições meteorológicas só lhe permitem produzir aquelas hortícolas ou frutos, ou seja, consome o que é sazonal), com pouco transporte e sempre frescos, utilizando sacos de linho ou cestas de verga para transportar os alimentos.
Para mim, parece que Portugal já inventou o “climatarian” há mais tempo do que o conceito britânico de 2009. O que importa não são as modas, mas a consciência de que nos alimentamos de forma saudável e com poucos impactos no planeta. Vamos fazer como os nossos antepassados: escolher alimentos de origem local, sem químicos, de preferência (aquilo a que se chama “biológico”); seguir a roda dos alimentos (atenção que as necessidades de cada um são diferentes – deve consultar um médico ou nutricionista); visitar a mercearia da sua localidade e comprar a granel e ter sempre a noção de onde vêm e como são produzidos os alimentos que ingere.
Bom apetite!
Joana Lima, CianMira