Com a notícia dos vastos incêndios na floresta Amazónica, não poderíamos deixar de reflectir sobre a importância desta no planeta Terra. Partilharam-se várias imagens e textos nas redes sociais e notícias referindo-se a Amazónia como “o pulmão da Terra”. Mas será mesmo assim?
Michael Coe, director do programa “Amazon” no Woods Hole Research Center, em Massachusetts, atenta que “Existem muitas razões pelas quais devemos conservar a Amazónia, mas o oxigénio não é uma delas”. Este e outros cientistas têm a mesma opinião. Um estudo de 2010, realizado por Yadvinder Makhi, ecologista de ecossistemas do Instituto de Mudanças Ambientais da Universidade de Oxford, estima que as florestas tropicais são responsáveis por 34% da fotossíntese que ocorre em terra. Com base no seu tamanho, a Amazónia deve gerar cerca de 16% de oxigénio produzido em terra. Mas esta percentagem desce para 9% se tivermos em conta o oxigénio produzido pelo fitoplâncton no oceano. Ainda é preciso ponderar que as árvores não só libertam oxigénio como também o consomem, à noite, quando realizam a respiração celular, convertendo os açúcares em energia. E esta quantidade é um pouco mais que metade do oxigénio produzido pelas mesmas. O resto do oxigénio é provavelmente usado pelos microorganismos que vivem na Amazónia que inalam oxigénio para decompor matéria orgânica morta da floresta.
Fazendo bem as contas, o investigador explica que “O efeito rede (de oxigénio) da Amazónia é perto de zero”. Então de onde vem o oxigénio presente na atmosfera? O oxigénio que respiramos é um legado do fitoplâncton no oceano que tem estado milhares de milhões de anos a acumular oxigénio que resultou na atmosfera respirável, explica Scott Denning, um cientista atmosférico da Universidade Estatal do Colorado.
É ao conhecer esta capacidade das algas marinhas que a pesquisa sobre florestas submarinas de algas para captar o dióxido de carbono e combater as alterações climáticas tem aumentado. Estas florestas de algas marinhas são altamente eficientes a armazenar carbono e também contrariam a acidificação, desoxigenação e outros impactos do aquecimento global que ameaçam a biodiversidade dos mares e a fonte de alimento e meio de subsistência para centenas de milhões de pessoas.
Os investigadores querem apostar no cultivo destas florestas “não incendiárias” para captar carbono e mitigar as alterações climáticas. O estudo de Halley Froehlich, investigadora da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, refere que cultivar algas somente em 3,8% das águas federais da costa da Califórnia poderia neutralizar emissões da indústria agrícola que custariam ao estado 50 mil milhões de dólares. Para além do potencial das algas para combater a acidificação e desoxigenação, absorver nutrientes e fornecer habitat para a vida marinha em pelo menos 77 países, podem também ser transformadas em biocombustível e adicionadas nas rações bovinas pois reduzem as emissões de metano destas.
Mas afinal, a Amazónia não tem nenhuma importância? Claro que sim e muita. Apesar de não ser o verdadeiro “pulmão da Terra”, a floresta Amazónica é “casa” para um vasto número de plantas e animais com valor biológico e ecológico incalculável. Aqui, habitam cerca de 390 mil milhões de árvores e mais que 16000 espécies de plantas e milhões de espécies animais. Entre os animais que vivem na floresta estão algumas das aves mais raras e coloridas do mundo; centenas de espécies de macacos; jaguares e panteras e criaturas incomuns como antas e capivaras. É também lar de crocodilos, lagartos, cobras gigantes como a anaconda, anfíbios como as rãs-ponta-de-flecha assim como golfinhos cor-de-rosa e peixes como as piranhas e arapaimas.
A Amazónia é o local mais rico no nosso planeta e uma das grandes bibliotecas da natureza na Terra.
Joana Lima, CianMira