Há 12 anos como secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, 69 anos, foi hoje novamente eleito pelos seus “camaradas”, previsivelmente até 2020, lucrando da empatia com e entre os seus, “os trabalhadores e o Povo”.
Ao intelectual e histórico Álvaro Cunhal (1961-1992) seguiu-se o economista de cátedra Carlos Carvalhas (1992-2004), mas Jerónimo, que faz questão de recusar título de doutor quando alguém lho atribui, pretende ser “só mais um” entre a classe operária. Hoje foi reeleito por unanimidade secretário-geral do PCP pelo Comité Central comunista, mantendo-se assim no cargo que ocupa desde 2004.
Os constantes adágios populares aproximam-no das populações, além do respeito e afabilidade de que goza por parte de muitos de outras “cores” partidárias. Os membros do partido elogiam-lhe a capacidade política e de comunicação, mas também o sentido de humor, sempre com uma “estória” ou piada na ponta da língua.
A declaração na noite eleitoral de outubro de 2015, de que, “com este quadro, o PS tem condições para formar Governo, mas têm de perguntar ao PS”, o mês de negociações com o socialista António Costa para o acordo inédito de governação à esquerda – juntamente com entendimentos socialistas com BE e PEV – foi o último “trunfo” jogado por Jerónimo, sublinhando sempre diferenças face ao partido “rosa”.
O PCP, com Carvalhas na liderança, passou dos 8,8% de votos (17 mandatos no parlamento) em 1991 para 6,94% (12) nas legislativas de 2002. Após Jerónimo ser eleito líder comunista, já depois de candidato à Presidência da República (1996) – quando desistiu em favor do socialista Jorge Sampaio -, o partido, sempre com “Os Verdes”, na Coligação Democrática Unitária (CDU), cresceu para 7,14% (14) em 2005, 7,86% (15) em 2009, 7,9% (16) em 2011 e 8,25% (17) em 2015.
O líder do PCP voltou a ter uma bancada com os mesmos 17 deputados do início da década de 1990, porém o BE atingiu 19 mandatos, em outubro de 2015, tendo ainda a candidata presidencial bloquista, Marisa Matias, alcançado o terceiro lugar (10,12%), enquanto o comunista Edgar Silva se ficou pelo quinto posto (3,95%), em janeiro último.
Antigo afinador de máquinas numa empresa metalúrgica e dirigente sindical, Jerónimo Carvalho de Sousa, nasceu em 13 de abril de 1947, criado pela mãe biológica, “a velha Olímpia” Jorge Carvalho, e seu marido António de Sousa. Sempre viveu em Pirescôxe, Santa Iria de Azóia, Loures.
Batizado pela Igreja Católica e com o quarto ano do antigo curso industrial, ao mesmo tempo que trabalhava (desde os 14 anos de idade), após ser um dos mais assíduos às passagens da carrinha-biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian, Jerónimo casou-se aos 19 anos com Ovídia e é pai de duas filhas, Marília e Lina, tendo dois netos pré-adolescentes, Rui Pedro e Rita, e um mais recente “rebento”, Gabriel.
O futuro líder comunista ajudou a fundar e dirigir Associação Cultural e Desportiva local em Pirescôxe e ainda hoje exerce o seu direito de voto, sob numerosos lentes e flashes, no Grupo Desportivo da terra, aproveitando para jogar às cartas e conviver com velhos amigos dos tempos de teatro e dança na coletividade 1.º de Agosto de Santa Iria.
Entre 1969 e 1971, o secretário-geral do PCP, benfiquista e fã da banda inglesa The Beatles, cumpriu o serviço militar, com uma incursão ao difícil cenário da guerra colonial na Guiné-Bissau.
Logo em 1975, um ano depois de ter aderido ao PCP, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte e continua, hoje em dia, como deputado na Assembleia da República. Jerónimo foi eleito para o Comité Central do PCP no IX Congresso Nacional (1979) e integrou a Comissão Política comunista desde o XIV Congresso (1992).
Novamente candidato à Presidência da República em 2006, foi eleito líder comunista no XVII Congresso Nacional (2004), também em Almada, sucedendo a Carvalhas, que fora o escolhido para substituir o histórico Álvaro Cunhal, em 1992.
Os comunistas já o reelegeram duas vezes, em 2008 (Lisboa) e 2012 (igualmente em Almada), antes da consagração de hoje.
Em diversas entrevistas, nos últimos quatro anos, nomeadamente à agência Lusa, o secretário-geral do PCP, apesar das dúvidas colocadas por alguns órgãos de comunicação social, especialmente na campanha das eleições legislativas de 2015, quando questionaram a sua forma física, sempre mostrou “disponibilidade grande” para continuar.
Jerónimo continua com o hábito de fumar e para o auxiliar em alguns dos, por vezes, longos discursos, recorre ao licor português Brandymel para ajudar a ginasticar as cordas vocais.
“É evidente que não serei eterno, mas aquilo que acolho, de contacto com o partido e com o povo português – muitos não sendo militantes comunistas, amigos do partido ou até mesmo fora desse universo – é que o incentivo é para continuar”, afirmou, numa das entrevistas.
Lusa