Operar 200 crianças em 15 dias. Onze portugueses vão provar que esta é uma missão possível

Uma equipa de médicos e enfermeiros dos Hospitais de Aveiro e de Famalicão parte para a Guiné-Bissau com um objetivo concreto: ajudar e ensinar a ajudar, num pais onde falta quase tudo, menos a esperança.

A equipa está formada: dois ortopedistas, três anestesistas, quatro enfermeiros e dois cirurgiões dos Hospitais de Aveiro e de Famalicão. O enfermeiro José Sousa conta que o desafio partiu de um outro médico.

“Temos um médico que trabalha connosco, que é guineense e tem uma Fundação na Guiné. Como o único ortopedista que existia lá faleceu, ele desafiou-nos para uma possível missão do foro ortopédico, que é uma das grandes lacunas que lá existem.”

Procuraram ajuda para poder concretizar a missão “Rumo à Guiné”: precisavam de material cirúrgico, fármacos e apoio financeiro. Decidiram fundar a Associação Bisturi Humanitário, com sede no Centro Hospitalar do Baixo Vouga.

O enfermeiro Saúl Senos não tem dúvidas de que este vai ser um desafio: “Poder oferecer coisas que temos como garantidas, mas que num outro cenário são quase inatingíveis. Somos todos inexperientes nestas matérias e vai ser um crescimento em conjunto, como tem vindo a ser.”

Os médicos vão estar a trabalhar no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, o principal hospital do país, e a anestesista Margarida Bettencourt sabe que não vai ser uma missão fácil.

“Estou à espera de muitos desafios, acho que nem nós temos bem noção do que vamos encontrar. Temos a noção de que há muitas dificuldades e é um dos motivos por que queremos ir. Estamos a tentar preparar-nos, mas há muita falta de material, não há condições básicas, coisas como lençóis, almofadas, fronhas, se calhar lá não vamos ter. Isto para não falar do material cirúrgico que vamos precisar.”

Esta iniciativa conta com o apoio do Governo da Guiné-Bissau, do Governo português, dos Centros Hospitalares do Baixo Vouga e do Médio Ave.

Nuno Fernandes é anestesista e também ele vai embarcar nesta viagem. “É um desafio a título pessoal e, tecnicamente, enquanto anestesista, é tentar fazê-lo com recursos limitados e isso obriga-nos a pensar em tudo o que vamos fazer e tentar antecipar cenários.”

A equipa vai estar durante duas semanas em Bissau e, além da prestação de cuidados cirúrgicos, vai dar formação a médicos e enfermeiros guineenses. Para a enfermeira Paula Eira o objetivo é deixar ferramentas para o futuro. “Estivemos a falar enquanto equipa sobre que tipo de mensagem podíamos levar aos profissionais de lá. O que pareceu mais adequado são coisas básicas como a higienização, cuidados de saúde básicos, suporte básico de vida. O objetivo não é só resolver as questões naquele momento, mas deixar alguma coisa que permita no futuro poderem continuar o nosso trabalho.”

A recente Associação Bisturi Humanitário decidiu juntar-se à Fundação José Manuel In-Uba. José Sousa diz que partem com o objetivo de realizar 200 cirurgias em quinze dias.

“Os doentes já estarão selecionados, não está bem definido o que vamos encontrar… vão ser cirurgias para dar alguma qualidade de vida e resolver alguns problemas, porque depois sabemos que há limitações no seguimento e nos pós-operatório, e temos que pensar nisso tudo. Para nós, faz todo o sentido ter unidades de cuidados intensivos e intermédios e lá não as vamos encontrar. Tivemos que adaptar o que vamos fazer à capacidade de resposta do hospital.”

Paula Eira sublinha que esta missão só é possível com a ajuda e a boa vontade de todos. “Estamos a falar de uma logística que implica num bloco operatório coisas tão simples como um ventilador, um monitor de sinais vitais e desfibrilhador, todo o material cirúrgico para poder trabalhar. Material tão simples como compressas, ligaduras, adesivos, seringas. Coisas simples que, no dia a dia aqui, nem valorizamos, mas que podem fazer muita diferença em pessoas que não têm absolutamente nada. Também podemos falar de fármacos, analgésicos, antipiréticos, tudo isso.”

O material já vai a caminho da Guiné Bissau, o contentor partiu a 21 de Janeiro. A Associação Bisturi Humanitário acredita que esta é a primeira de muitas missões. Toda a ajuda é bem-vinda e basta aceder à página do facebook para saber como colaborar. “Dia 23 estaremos as caminho de Bissau para poder levar esperança aquelas pessoas que não têm absolutamente nada. É isso que nos move.”

Dar sem esperar nada em troca. Os médicos da Associação Bisturi Humanitário, chegam à Guiné-Bissau no dia 23 de fevereiro e regressam a 9 de Março. Partem com o objetivo de operar 200 crianças em duas semanas.

Rute Fonseca / TSF