Há quem considere que a cultura é “elitista” quando não envolve muitas pessoas, nem tem “honras” televisivas ou algo como isto… Puro engano!
A cultura pode ser feita de forma soberba dentro de quatro paredes, com as pessoas bem “aconchegadas” pelas palavras lidas e pelas canções tocadas e cantadas em forma de poemas, num serão calmo e distante das desgraças mundanas que nos impingem a todo instante em forma de noticiário…
Foi isto o que aconteceu (mais uma vez) na Biblioteca Municipal de Mira. Já se tornou um hábito aquele pequeno espaço “transformar-se”, agigantando-se com a simplicidade e a beleza das palavras, das imagens e dos sons.
Ali esteve António Canteiro, um homem das letras nascido em São Caetano e radicado em Febres, a trazer às pessoas um pouco da sua interioridade. Sim, por que escrever nada mais é que doar um pouco de si aos outros, levando-os pela imaginação, a lugares onde nunca chegariam…
O livro “O silêncio solar das manhãs”, de António Canteiro foi apresentado pelo autor e por amigos. Foi lido, foi cantado e foi ilustrado pelas belíssimas aguarelas de Alves André, um pintor e escultor, que faz da arte, não somente o seu ganha pão, mas sim, um estado de espírito sereno através das imagens.
Com ele estiveram Manuel Coquim a “expor a nu” a essência da obra do autor, como psicólogo que é, para além de Paulo Cavadas, Vítor Campos e Manuel Ribeiro, que deram som às palavras, com uma elegância nos acordes, que não deixou as pessoas indiferentes.
Dulce Cainé e Maria Donzília Alves, fizeram as honras da casa por algumas horas, mostrando que o bom gosto do talento conjuga com a sede de cultura que se vive no Concelho de Mira.
O Jornal Mira Online quis saber, em jeito de despedida, de António Canteiro, como define “sua” obra. A resposta foi pensada longamente, e veio nestas palavras: “Essencialmente, minha criação trata de relações humanas. Deixo os personagens acontecerem. Eles vão-se fazendo…”
Talvez esteja aí o segredo de um escritor já premiado: tocando na alma de quem o lê consegue penetrar em lugares sombrios que cada um de nós possui. Esta é uma forma de ser útil, de ajudar ao leitor a perceber-se melhor…