O salto de sete metros que valeu o ouro a Naide Gomes

Naide Gomes sagrou-se campeã do mundo de salto em comprimento em pista coberta a 9 de março de 2008, ou seja, faz precisamente 10 anos na próxima sexta-feira

Foi em Valência que a então atleta do Sporting bateu o seu próprio recorde de Portugal por sete centímetros, com um salto de sete metros ao quinto ensaio e bateu a brasileira Maurren Higa Maggi (6,89 metros) e a russa Irina Simagina (6,88), respetivamente medalhas de prata e bronze.

Foi das mãos do histórico Sebastian Coe, antigo recordista mundial dos 1500 metros, que Naide recebeu a tão desejada medalha alcançada na sua sexta final consecutiva em grandes competições internacionais. Com um sorriso nos lábios, a atleta falou sobre uma prova que fez esquecer o sempre incómodo quarto lugar nos Mundiais de atletismo ao ar livre, realizados cinco meses antes em Osaka. “Trabalhámos muito para chegar aqui num grande nível. Sinto-me mais determinada, com mais empenho. Ganha-se ou perde-se uma medalha por um salto e eu lembrei-me dos Mundiais de Osaka e disse para mim: não, isso não pode voltar a acontecer”, revelou a atleta, acrescentando que depois da desilusão no Japão aperfeiçoou algo que acabou por ser decisivo no ouro: “Trabalhei mentalmente e tenho de continuar a trabalhar porque vale sempre até ao último ensaio e não nos podemos dar por vencidos.” Naide Gomes considerou ter sido “um concurso perfeito” em que “o trabalho deu frutos”. “Até ao último salto, temos de acreditar, acreditar sempre”, vincou na altura.

Esta foi a última das quatro medalhas de ouro internacionais da carreira de Naide Gomes, que brilhou em Valência com 28 anos, apesar de ter competido com uma hérnia inguinal. Antes tinha sido campeã mundial de pentatlo de pista coberta em 2004 (Budapeste) e bicampeã europeia de salto em comprimento, também indoor, em 2005 em Madrid e em 2007 em Birmingham.

O último dia dos Mundiais de Valência teve outro português a brilhar: Nelson Évora conquistou a medalha de bronze no triplo salto, atrás do britânico Phillips Idowu e do cubano Arnie David Girat. Um resultado que agradou ao então triplista do Benfica, que em Osaka se sagrou campeão mundial ao ar livre.

Medalha de prata, 12 anos depois

Uma lesão levou Naide Gomes a anunciar o final da carreira a 26 de março de 2015, tinha então 35 anos. Para trás ficava uma carreira brilhante a nível internacional, primeiro no pentatlo, especialidade em que além do título mundial conquistou uma medalha de bronze nos Europeus de pista coberta de 2002. Mas o maior sucesso foi no salto em comprimento, em que além das quatro medalhas de ouro, conquistou cinco de prata: duas nos Europeus ao ar livre (2006 e 2010), uma nos Campeonatos da Europa de pista coberta de 2010 e outra nos mundiais também indoor de 2011.

Contudo, recentemente, foi atribuída a Naide Gomes a medalha de prata relativa ao Campeonato do Mundo de pista coberta de 2006, em Moscovo. A atleta portuguesa tinha sido terceira classificada, mas o controlo antidoping positivo da russa Tatiana Kotova, que tinha ganho o concurso de salto em cumprimento, fez que perdesse o título.

Em Birmingham, onde se realizam os Europeus de atletismo de pista coberta, realizou-se uma nova cerimónia de pódio em que a então segunda classificada, a norte-americana Tiana Bartoletta, recebeu o ouro, tendo um membro da seleção nacional representado Naide Gomes, que passou a ser medalha de prata. “Passado alguns anos soubemos que o pódio não era real, a vencedora jogou sujo, estava dopada. Se fiquei feliz com a novidade? Fiquei pois, afinal de contas a verdade veio ao de cima. Mas não é a mesma coisa, os sentimentos vividos no dia da prova poderiam ser diferentes”, disse há poucos dias Naide Gomes.

 

Fonte: DN