“O problema da educação e não só” (Carlos Sérgio Negrão)

09.3.2023

“O tema da educação e das múltiplas manifestações de desagrado por parte dos profissionais da área, em Portugal, é algo que arriscar-me-ia a dizer que vem dos confins do berço da democracia no nosso país.

Não tenho dados históricos concretos mas, como um nascido em 1976 que sou, com uma mãe professora que sempre foi muito zelosa das suas obrigações profissionais, tenho memórias de conversas sobre problemas de progressão de carreiras, problemas da gestão do absentismo, problemas da falta de sorte por ter vinculado na Baixa da Banheira, a sorte por ter tido a possibilidade de lecionar na Telescola da Carapinheira durante 20 anos, ter vindo de seguida para Febres exercer as mesmas funções e por fim, terminar a sua carreira no 1º ciclo na escola do Montinho e finalmente na Cantanhede Sul.

A minha mãe nunca foi uma grande “frequentadora” de greves, mas tenho-a hoje, como tinha no passado, como alguém que faz questão de fazer valer os seus direitos pois é a primeira a cumprir com as suas obrigações.

Os dias que vivemos hoje são seguramente muito mais complexos do que os idos anos 80 e 90 do século passado, mas há coisas que não mudam!

Uma das coisas que não muda é o facto de a razão, mesmo que abstratamente possa estar do nosso lado, nunca justificar qualquer meio para a defesa da mesma.

Percebendo claramente a injustiça de que os professores foram alvo com a não consideração de muitos anos de serviço para o cálculo de reforma, com as chamadas “medidas travão” na progressão da carreira, etc, etc, etc, … não creio que a forma de luta identificada como ideal, nomeadamente ao abrigo dessa afirmação que ainda hoje não compreendi bem que é a “nova forma de praticar o sindicalismo”, tenha sido, ou seja, a ideal.

Nos meus tempos de estudante, desde os tempos da Escola Secundária de Cantanhede até ao final do curso na Escola Superior de Educação de Coimbra, sempre fiz questão de tentar ser interventivo na defesa do que eu considerava serem os direitos dos que eu representava à altura, os estudantes! Mas sempre o fiz da forma, julgo eu, adequada e nos fóruns certos!

Disponibilizei-me para ir a eleições para perceber se os meus pares tinham confiança em mim, e depois de confirmada essa confiança fiz apenas o que era a minha função, defendi os seus interesses nos órgãos para onde tinha sido democraticamente eleito.

Hoje ainda não sei se esta nova forma de fazer o sindicalismo é a correta, mas também não consigo defender o seu oposto!

Uma coisa eu sei, todos os professores defendem, provavelmente bem, que devem ser ressarcidos do esforço que têm vindo a fazer nas últimas décadas, da dedicação que imprimem no seu trabalho diário na prossecução do que são as suas funções profissionais, muitas vezes sem as mínimas condições de trabalho, enfim um sem número de reivindicações que dificilmente poderá alguém dizer que não fazem sentido.

Se este texto em vez de falar sobre a classe profissional dos professores, se referisse a quase qualquer outra classe profissional da chamada função publica, certamente não deixaria de continuar a fazer eventual sentido, e este é o verdadeiro problema dos dias de hoje. Todos estamos num trajeto em que iremos ser cobrados pelas decisões do passado relativamente recente.

Tenho para mim que as mudanças ao nível do funcionamento genérico da sociedade foram tantas e tão rápidas que dificilmente poderia haver solução para todas. Infelizmente este parece ser o preço a pagar pelo “desenvolvimento humano”.

O “desenvolvimento humano” trouxe muitos avanços e benefícios, mas também tem as suas consequências negativas. Cabe-nos a nós encontrar maneiras de minimizar esses impactos e maximizar os respetivos benefícios. Isso deverá envolver uma abordagem multidisciplinar que considere tanto os aspetos económicos como os sociais e ambientais.

Precisamos de um diálogo aberto e honesto sobre os desafios que enfrentamos como sociedade, e trabalhar juntos para encontrar soluções sustentáveis e equitativas. Isso pode exigir mudanças significativas no nosso sistema político e económico, mas fundamentalmente nos nossos comportamentos e atitudes individuais.

Em resumo, embora algumas soluções possam ser difíceis de encontrar, devemos continuar a trabalhar para enfrentar os desafios que enfrentamos como sociedade. “O desenvolvimento humano” pode trazer muitos benefícios, mas precisamos encontrar maneiras de minimizar as suas consequências negativas.

Regressando ao tema base deste texto, e para terminar, gostaria de deixar aqui uma palavra de ânimo e motivação a todos os professores que conheço pois, mesmo que eventualmente não os acompanhe em todas as reivindicações, acompanhá-los-ei sempre na defesa do conceito de proteção dos seus direitos”.