5.9.2023 –
“Por “meme” entende-se um termo que está relacionado à semelhança – à imitação (ou à mimética grega). Neste caso, serve-se da linguagem multidisciplinar como forma de comunicação. Diz-nos Mirsharapovna et. al., (2022) que a linguagem está sempre à procura da forma mais eficaz de transmitir informação. Isto é, é-lhe inata a persistência de uma busca que torne mais ágil o processo mediático.
Com o advento da “Internet” e da sociedade conectada em rede, vive-se num momento em que a presença no ecrã e o domínio das interações intermediadas é a norma. Sendo que hoje a exceção é a interação interpessoal – isto é: o “tête – à – tête”.
Está-se no advento da racionalidade digital. Trata-se de um paradigma em que, por exemplo, na esteira do pensamento dataísta o discurso tradicional já não é considerado como sendo o modelo mais eficaz de comunicação, mas sim uma transmissão de uma quantidade de informação que seja perfeitamente controlável e otimizada na operacionalização do processo mediático (Han, 2022). E, atenção! Falei de processo e não de ação… Este argumento pressupõe a presença de uma programação prévia que preveja a possibilidade de ocorrerem inúmeros contextos. Não há espaço para improviso ou elementos inesperados. Tudo deverá estar previamente previsto e acautelado. Veja-se o caso da inteligência artificial e os desafios que apresenta à sociedade.
É por isso que se está num momento em que a plasticidade dos algoritmos não só está capacitada de criar, mas consegue imitar uma argumentação, embora despida de racionalidade e pensamento crítico, e está assente em preocupações estéticas. Isto é – predomina a imagem sobre a razão. Não é a razão, mas sim a emoção que impera.
Ao levar esta discussão para os “memes” pode ver-se que existem várias modalidades. Destas, destacam-se as seguintes modalidades: texto, imagens, vídeo, híbridos (compostos por linguagens verbais e não verbais), “rage comics” (conteúdos de banda desenhada que servem propósitos satíricos) (Mirsharapovna et. al., 2022). Estes tipos de conteúdos exprimem vários tipos de sentimentos – dos quais se destacam: insatisfação, prazer, tristeza e neutralidade (ibid., 2022).
Nestes tempos de corrosão da razão, diz-nos Han (2022) que se assiste à presença de uma ideologia que é cada vez mais baseada na narração; isto é, na forma como os nos são apresentadas as coisas e o modo como nós reagimos e não nos fatos. É o imperar da emoção sobre a razão num momento em que a discursividade, que é essencial à democracia, está em crise. O entreter o público é o objetivo desejado. Veja-se o caso das notícias falsas e do “infotainment” com que somos brindados pelos serviços noticiosos que compõem a nossa ecologia mediática. Há uns anos Niel Postman (1985), falava de nos entretemos até à morte num contexto em que o discernimento já não tem lugar.
E é neste contexto que se alvitra que o “meme” possa ter um potencial infindável em termos de eficácia comunicativa. Ao olhar para esta forma de comunicação, pode ver-se que o seu sucesso advém da sua origem enquanto uma manifestação de comunicação que é culturalmente partilhada. É uma forma de comunicação que é assente em referências à: cultura Pop, cinematografia, agenda noticiosa, música, etc… Para além deste aspeto, mais ligado à compreensão, trata-se de uma forma de comunicação que é facilmente acessível – em que cada um de nós pode ser autor de um “meme”. Não somos meros consumidores, podemos ter um papel ativo neste processo.
Trata-se de uma forma de comunicação composta por um grande impacto social – veja-se o caso de Goerge Floyd, o movimento MeToo etc., e na política. Devido à rápida disseminação que esta forma de comunicação tem, através de partilhas quase incessantes, e à facilidade de compreensão, acesso e de criação ou de recriação que apresenta, tem-se revelado como sendo uma ferramenta comunicacional essencial em atos eleitorais (Chakraborty, 2023). Aliás, prevê-se que represente uma das principais ferramentas de comunicação em próximos atos eleitorais.
Com a importância que a comunicação digital tem e com a convergência de meios a que se assiste, a mediatização de memes apresenta, por vezes, velocidades de disseminação que nem as notícias atuais acerca do acontecimento, conseguem acompanhar. Veja-se, por exemplo, os recentes casos de: Sérgio Conceição no Estádio de Aveiro (durante a final da Supertaça); o cumprimento entre Marcelo Rebelo de Sousa e o Papa e o caso Rubiales e Hermosa quando Espanha ganhou o recente mundial de futebol feminino etc.
A cultura do “meme” encontra-se em constante estado de evolução e adaptação (ibid., 2023). É uma manifestação líquida, quase camaleónica adaptada às vontades e aos meios de interação e de criação que estão à nossa disposição. À medida que novas tendências culturais emergem, os “memes” vão acompanhando esses movimentos mantendo-se, assim, como manifestações comunicacionais e culturais eternamente contemporâneas e aceites. Tal como as notícias falsas, trata-se de uma forma de comunicação em que o que impera é a capacidade provocar excitação, em vez de uma linha argumentativa assente em racionalidade (Han, 2022).
Luís Miguel Pato
Docente no ensino superior na área da comunicação
Profissional de comunicação”