O gigante iraniano que virou estrela dos paralímpicos

É uma das 10 pessoas mais altas do mundo (2,46m) e foi convidado a praticar voleibol sentado após ter contado a sua história numa reportagem. Agora, é o maior trunfo do Irão rumo à medalha de ouro

Morteza Mehrzad deu nas vistas na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Na entrada da comitiva do Irão, destacou-se o gigante de 2,46 metros, que caminhava com o apoio de muletas. A sua estatura impressionou, mas a maior surpresa surgiu quando se descobriu o desporto no qual se ia estrear a nível internacional.

Aos 28 anos, Morteza já é uma das maiores figuras do voleibol sentado, pela sua invulgar estatura. Mesmo sem elevar os braços, o iraniano fica com a cabeça acima da rede, o que faz com que consiga bloquear com facilidade quase todas as bolas, tornando-se num adversário quase intransponível. A vantagem em relação às outras seleções é tão grande que o selecionador iraniano só tem utilizado Morteza a espaços, pois “é preciso saber gerir muito bem esta arma secreta”.

Aos 16 anos, Morteza já media 1,90 metros e sofria de acromegalia, também conhecida por “gigantismo” quando afeta adolescentes. O aumento da secreção das hormonas de crescimento fez com que o iraniano chegasse à lista dos 10 maiores do mundo, embora haja registo de mais sete pessoas com 2,46 metros.

Porém, quando era adolescente Morteza sofreu uma fratura na pélvis, o que paralisou o crescimento da perna direita – a perna esquerda tem mais 15 centímetros do que a direita, o que impede que possa caminhar normalmente e que alterne entre cadeira de rodas e muletas.

As suas limitações locomotivas foram, há cinco anos, tema de uma reportagem emitida no Irão, em que Morteza mostrava o seu dia a dia. Um técnico de voleibol iraniano convidou-o para fazer provas no clube. Gostou e começou a fazer carreira no voleibol sentado, até ter sido chamado, no último ano, para integrar a missão paralímpica, numa altura em que admitia que não sentia qualquer motivação na sua vida.

“Estava sozinho, deprimido, mas a minha vida mudou ao sentar-me para jogar voleibol e ser paralímpico”, disse o atleta, que deixou o Irão espantado com o seu talento natural. “É inacreditável. Ele estica os braços e já está, ganha o ponto. Houve técnicas que ele teve que aprender, e evoluiu. Tornou-se um fenómeno”, elogiou o técnico Hadi Rezaei.O selecionador contou que, inicialmente, as pessoas tinham medo de se aproximar do atleta: “A vida dele era complicada. Estava sozinho, não tinha ninguém. Agora, as pessoas começam a conhecê-lo, pedem fotos e tornou-se uma celebridade. Um tipo estranho, sozinho, pode tornar-se um campeão.”

O Irão tem cinco títulos paralímpicos de voleibol sentado, mas em 2012 foi a Bósnia a vencer o torneio. Com Morteza, o resgate do título dificilmente falhará – o Irão bateu a Bósnia por 3-0 nas eliminatórias.

DN