Nobel da Paz distingue dois jornalistas pela defesa da liberdade de expressão

A filipina Maria Ressa “usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o autoritarismo crescente no seu país”. O russo Dmitry Muratov é distinguido por defender “há décadas a liberdade de expressão na Rússia, em condições cada vez mais desafiantes”.

O Nobel da Paz 2021 foi atribuído a uma dupla de jornalistas – uma filipina e um russo – pela defesa da liberdade de expressão.

Maria Ressa “usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o autoritarismo crescente no seu país de origem, as FIlipinas”, justifica a a Academia. Dmitry Muratov é distinguido por há “décadas defender a liberdade de expressão na Rússia, em condições cada vez mais desafiantes”.

Ressa e Muratov representam todos os jornalistas “que se erguem por este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”.

Ressa, 58 anos, é cofundadora do site de notícias Rappler e foi repórter da norte-americana CNN. Muratov, que vai fazer 60 anos no fim do mês, é um dos fundadores do Novaya Gazeta, considerado um dos jornais mais independentes da Rússia.

A distinção destes dois jornalistas foi considerada uma surpresa, dado que entre os favoritos apontados para o Nobel da Paz deste ano estavam nomes como Greta Thunberg, Navalny e a OMS.

Este galardão é um dos mais aguardados do ano. Para além do prémio de um milhão de dólares (cerca de 870 mil euros) que a distinção acarreta para o vencedor, há o valor inestimável de entrar no lote de pessoas que foram reconhecidas por trabalhar pela paz na terra.

Os prémios Nobel celebram este ano o 120.º aniversário desde as primeiras atribuições, em 1901.

Passar das palavras aos atos

O presidente da direção do Sindicato dos Jornalistas diz que não podia estar mais satisfeito com a atribuição deste prémio, considerando que “a desinformação está neste momento a ganhar terreno e furiosamente até a corroer alguns dos pilares da democracia”.

Nestas declarações à Renascença, Luís Filipe Simões diz que o Comité Nobel, ao premiar estes dois jornalistas está a defender que se passe “das palavras aos atos”.

“É verdade que todos dizemos estar muito preocupados, mas raramente vemos demonstrações de que o jornalismo e a liberdade de expressão deve ser defendida. Aqui é o sinal que o Comité Nobel deu é que chegou a hora de passarmos aos atos. Acredito que isto possa dar frutos, que possa fazer os governos por esse mundo fora refletir um pouco”, remata.

O Instituto de Imprensa Internacional também já manifestou, através da rede social Twitter, a sua satisfação pela atribuição do Nobel a dois jornalistas, dos quais Maria Ressa que faz parte dos órgãos do instituto.

“Estamos extremamente orgulhosos que Maria Ressa, membro do executivo do IPI, tenha sido galardoada com o Prémio Nobel da Paz, em conjunto com o jornalista Dmitry Muratov. Que momento incrível para a liberdade de imprensa e parabéns para a Maria Ressa e para o Dmitry Muratov”, lê-se.

Também o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, felicitou os dois jornalistas agora distinguidos, salientando a luta corajosa de ambos “pela justiça e liberdade”.

“Parabéns a Maria Ressa e Dmitry Muratov pela atribuição do Prémio Nobel pela vossa luta corajosa pela justiça e liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia”, escreveu Michel na sua conta na rede social Twitter.

O presidente do Conselho Europeu acrescentou ainda que a atribuição do galardão pelo Comité Nobel norueguês é “um sinal importante para a liberdade de imprensa – um valor central europeu e uma condição para a democracia.

Cristina Nascimento / RR