No Arneiro vive uma escritora que quer ser lida por poucos…

Chama-se Odete dos Santos, mora na pacata localidade do Arneiro, em Mira e, escreveu um pequeno livro para deixar de memória aos seus 5 filhos , 10 netos e (quase) 8 bisnetos – o oitavo vem a caminho e chegará em Outubro!

Jornal Mira Online procurou saber da Dona Odete o que a levou a concretizar um sonho “que vinha de longe”, segundo a própria autora. “Queria passar para a minha família, nestas duas gerações que vieram depois de mim, toda a minha história de vida, desde quando nasci até ao neto mais recente. Queria muito que meus filhos conhecessem as minhas memórias mais marcantes!”

Odete dos Santos é uma daquelas senhoras com quem se tem gosto em conversar. Pessoa simpática e sorridente, lá foi ela, entre filhos e netos, entre uma conversa paralela e outra, contando alguns episódios de uma vida que já contam mais de 80 anos e onde há muito por ensinar.

 

SEIS EXEMPLARES, APENAS

Sim, o livro da Dona Odete só tem seis exemplares! Ela não quis “ganhar algum” nem teve qualquer outra intenção que não fosse a de deixar esta pequena herança aos seus.

Ali, em cada um dos seis raros exemplares pode-se ler, por exemplo, que esta senhora esteve na região de Paris, a trabalhar durante 15 anos na difícil vida de um emigrante. Mas, gostou muito de lá estar… e, teria ficado com todo o gosto em França, não fosse o facto da sua “casinha” ser no Arneiro!

Esta é uma mulher que lutou sempre pelos seus objetivos, que criou os filhos à sua imagem e muito se orgulha disso. É uma mulher valente que tirou a sua carta de condutora “aos 54 anos e conduzi até aos 82, quando deixei de pegar nom volante por minha conta, pois tinha a consciência de que poderia atrapalhar os outros”. Esta é, porém, uma matéria em que os filhos discordam dela, uma vez que – para eles – “ela ia para todo o lado, conduzindo sempre bem, com tranquilidade e sem interferir no andamento das pessoas… mas, a vontade dela foi respeitada, pois claro!”.

Dona Odete quis, como é fácil de se perceber, homenagear o marido, já falecido. Quis contar aos seus quem era o pai, o avô e o bisavô de cada um. “Não podia deixar de fazê-lo, numa justa homenagem” – garante a autora que afirma peremptoriamente que vai continuar a escrever para si própria e os seus e que lamenta profundamente que a tecnologia de hoje, atrapalhe tanto a nossa juventude, impedindo-os de ler, de aprender as coisas que vem de trás e que deviam ser passadas de geração em geração”. Mas, desengane-se quem pensa que Odete Santos é uma saudosista: “Penso que há espaço para tudo no nosso dia-a-dia, que podemos conviver em comunhão com a Internet, os livros e as conversas à volta da mesa… é tudo uma questão de nos adequarmos ao momento!”.

 

“ABENÇOADA”

Odete dos Santos considera-se, nesta altura da vida “uma mulher abençoada, que dá graças a Deus por ainda cá estar junto da minha família que tanto amo”. Estar acompanhada, constantemente, por eles é um privilégio que, infelizmente, é negado a muitos, e ela procura a cada dia, retribuir-lhes o carinho e o amor que recebe, na mesma moeda.

É uma mulher que rodeia-se dos seus e que gostava de “mudar o mundo de alguma forma, para que houvesse mais paz, mais amor, humildade e compreensão entre todos os seres humanos”.

Odete dos Santos é um excelente exemplo de vitalidade apesar das mazelas próprias da idade. Ela não é daquelas pessoas que espera sentada pelo dia de amanhã: ela o constrói!

Escrever um livro (e estar a preparar outro) é apenas uma das formas que esta simpática senhora encontrou de não ser apenas mais uma. Ela, e tantos como ela, vão dando um bonito testemunho de vida para aqueles que chegaram depois. Ela, e tantos outros, são uma espécie de agricultores que semeiam boas coisas para que o mundo seja um lugar um pouco melhor…

 

Jornal Mira Online