O primeiro-ministro, António Costa, considerou hoje, em Loulé, que há no país um sentimento de “revolta e incompreensão” pela greve dos motoristas de matérias perigosas e apelou para um entendimento entre as partes.
“Há um claro sentimento nacional de revolta e incompreensão perante uma greve que é marcada para o meio de agosto de 2019, quando já estão acordados aumentos salariais de 250 euros para janeiro 2020, e o que está em causa são os aumentos salariais para 2021 e 2022”, afirmou António Costa após a reunião semanal com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na Alcaidaria do Castelo de Loulé, distrito de Faro.
O primeiro-ministro insistiu que “ninguém de bom senso compreende como se faz uma greve em agosto de 2019 relativamente a aumentos salariais de 2021 e 2022”, manifestando a esperança de que “as partes se entendam e tudo se ultrapasse a bem” na reunião que as partes vão manter na segunda-feira.
“Mas aquilo que queríamos garantir a todos os portugueses é que o Governo está neste momento preparado já para tomar todas as medidas, do ponto de vista legal e operacional, para minorar tanto quanto possível os efeitos de uma eventual greve que é indesejável, que nada justifica e que tudo permite ainda ser evitada a tempo”, acrescentou.
O primeiro-ministro assegurou ainda que o executivo vai adotar “todas as medidas até ao limite daquilo que a lei e a Constituição permitem” para “minorar os impactos na vida dos portugueses”.
“Obviamente que o direito à greve é um direito legítimo de todos os trabalhadores, mas, como tudo, tem de ser usado com a devida proporcionalidade, razoabilidade e creio que não é, aliás, saudável, para quem quer defender o direito à greve e respeitar os direitos sindicais, criar no país um sentimento de tanto antagonismo relativamente a uma luta que dificilmente as pessoas podem compreender”, argumentou o chefe do executivo.
Questionado sobre se ainda há margem para um acordo, António Costa respondeu com uma pergunta: “Se as partes estão de boa-fé neste processo, como é possível não se entenderem?”.
A greve convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), que começa em 12 de agosto, por tempo indeterminado, ameaça o abastecimento de combustíveis e de outras mercadorias.
O Governo terá de fixar os serviços mínimos para a greve, depois das propostas dos sindicatos e da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) terem divergido entre os 25% e os 70%, bem como sobre se incluem trabalho suplementar e operações de cargas e descargas.
A greve do SNMMP iniciada em 15 de abril levou à falta de combustíveis em vários postos de abastecimento em todo o país, tendo o Governo acabado por decretar uma requisição civil e convidar as partes a sentarem-se à mesa das negociações.
O SIMM já veio dizer que as consequências desta greve serão mais graves do que as sentidas em abril, já que, além dos combustíveis, vai afetar o abastecimento às grandes superfícies, à indústria e aos serviços, podendo “faltar alimentos e outros bens nos supermercados”.
Lusa