O semanário Sol adianta mais pormenores sobre motivos que terão, alegadamente, levado à detenção do ex-primeiro ministro, José Sócrates, no dia de ontem: Uma fortuna avaliada em 20 milhões de euros e, por exemplo, a compra de milhares de exemplares de um livro seu. Pode-se, também, destacar o esquema Octapharma.
O consultor da Octopharma
Janeiro de 2013. Sócrates, ainda sem diploma de filósofo de um curso lecionado em França, onde residiu após abandonar o cargo de primeiro-ministro, é contactado pela Octapharma para ser consultor da empresa. A farmacêutica austríaca passa a pagar-lhe 12 mil euros mensais.
No entanto, este valor é insuficiente para o dia-a-dia de Sócrates. Santos Silva, ligado ao grupo Lena, fica responsável por fazer levantamentos em numerário no valor de 10 mil euros mensais, em média, num balcão do BES. O valor é entregue em mãos ou chega ao antigo primeiro-ministro por terceiros. Com o resgate do BES, metade da fortuna é transferida, segundo o Sol, para outra instituição bancária.
Recentemente, para as entregas de dinheiro deixarem de ocorrer de ‘forma pública’, a Octapharma passa a forjar, todos os meses, facturas. O dinheiro do espólio Sócrates é enviado para uma sociedade offshore sediada em Londres cujo beneficiário é Lalanda de Castro. Este paga-lhe mais 12 mil euros através de outra sua empresa em Portugal. Este valor é pago como avença e declarado ao Fisco.
Buscas à residência do ex-primeiro-ministro
José Sócrates está a ser investigado por suspeitas de corrupção, fraude fiscal agravada, branqueamento de capitais e falsificação de documentos. No âmbito desta investigação foram conduzidas buscas à sua residência, no edifício Heron Castilho, no centro de Lisboa (na rua Brancaamp, ao pé da praça Marquês de Pombal), mas também a uma empresa em Alvalade, onde o antigo governante guarda documentação, pagando da sua própria conta 160 euros por mês.
Além de Sócrates foi também investigado Carlos Santos Silva (administrador do grupo Lena e amigo de longa data do primeiro-ministro), Gonçalo Ferreira (advogado que trabalha na Proengel) e Joaquim Lalanda de Castro (representante em Portugal da Octapharma, a multinacional para a qual Sócrates trabalha desde 2013).
Uma ‘conta’ com 20 milhões de euros
Durante o período em que chefiou os destinos do país, o governante juntou uma fortuna de cerca de 20 milhões de euros. Este dinheiro terá sido depositado num banco suíço, numa conta em nome de uma pessoa da sua confiança. Além deste facto, segundo o Sol, durante o período em que foi primeiro-ministro, Sócrates terá aprovado um diploma que lhe permitiu branquear essas verbas ilícitas.
A conta na Suíça estará em nome do empresário Carlos Santos Silva, administrador do Grupo Lena, suspeito de co-autoria e agente directo na fraude fiscal. A relação entre ambos foi forjada ainda durante a juventude, na Covilhã. A confiança mútua será tanta que, escreve o Sol, Santos Silva tem em seu nome a maior parte dos bens de Sócrates.
A compra de milhares de exemplares do livro ‘A Confiança no Mundo’
A Confiança no Mundo (Sobre a Tortura em Democracia), que chegou às livrarias em outubro do ano passado, tem origem na sua tese na Sorbonne, quando se tornou filósofo. Vários milhares de exemplares desta obra terão sido comprados por Santos Silva, usando dinheiro de Sócrates, fazendo esgotar em pouco tempo o stock de 20 mil exemplares.
O caso está a ser acompanhado pelo juiz de instrução Carlos Alexandre e foram detidas mais três pessoas.
FONTE: Jornal Sol