O empresário congolês Sindika Dokolo, marido da empresária angolana Isabel dos Santos, morreu ontem no Dubai, disse à Lusa fonte ligada à família.
A imprensa congolesa adianta que Sindika Dokolo morreu no Dubai, quando praticava mergulho. Outras fontes angolanas indicaram que a causa da morte foi uma embolia.
O empresário e colecionador de arte tinha 48 anos e nasceu na atual República Democrática do Congo. Em 2002 casou-se em Luanda com Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos.
As mensagens de condolências multiplicaram-se nas redes sociais, como a de Michée Mulumba, assistente pessoal do Presidente congolês, Felix Tshisekedi: “Foi durante um mergulho que partiu para a eternidade, uma atividade habitual que o afastou da sua luta e dos seus entes queridos”, no Twitter.
Nascido no antigo Zaire, a 16 de maio de 1972 (atual República Democrática do Congo) era filho do banqueiro Augustin Dokolo Sanu, e da sua segunda mulher, a dinamarquesa Hanne Taabbel. Frequentou o liceu Saint Louis de Gonzague, em Paris, e prosseguiu os estudos na Universidade Paris Vi Pierre et Marie Curie.
Crítico dos quase 20 anos do regime do Presidente Joseph Kabila na RDCongo, Sindika Dokolo esteve cerca de cinco anos no exílio, devido aos processos movidos em Kinshasa, tendo regressado apenas em maio de 2019, já depois da chegada ao poder de Félix Tshisekedi, que tomou posse como chefe de Estado congolês em janeiro.
Inspirado pelo pai, começou a sua coleção de arte quando tinha 15 anos e criou mais tarde a Fundação Sindika Dokolo, a fim de promover as artes e festivais de cultura em Angola e noutros países.
Em fevereiro de 2016, ainda com José Eduardo dos Santos nas funções de Presidente em Angola, a Fundação Sindika Dokolo entregou ao chefe de Estado, no Palácio Presidencial, em Luanda, duas máscaras e uma estatueta do povo Tchokwe (leste de Angola), que tinham sido saqueadas durante o conflito armado, recuperadas após vários anos de negociação com colecionadores europeus.
Para Sindika Dokolo, o repatriamento de obras de arte levadas de África para coleções privadas em países ocidentais era um tema que começa a ganhar nova força, desde logo com a promessa do Presidente de França, Emmanuel Macron, de entregar ao continente uma grande parte do acervo francês com património africano.
Na sua coleção pessoal, Sindika Dokolo contava com mais de 5.000 obras de arte de diversos artistas, nomeadamente africanos.
Em março de 2015, Sindika Dokolo foi galardoado, por decisão de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, com a Medalha de Mérito da cidade do Porto, no âmbito do empréstimo da coleção designada ‘You Love Me, You Love me Not’. No ano seguinte, a Fundação Sindika Dokolo escolhia a Invicta para acolher a sua sede na Europa, que haveria de ficar situada no edifício Casa Manoel de Oliveira — comprada em hasta pública por 1,58 milhões de euros.
Tal como Isabel dos Santos, os negócios de Sindika Dokolo estavam a ser investigados pela justiça angolana, na sequência das revelações do Consórcio Internacional de Jornalistas que ficaram conhecidas como “Luanda Leaks”.
Sindika Dokolo e a mulher são suspeitos de terem lesado o Estado angolano em milhões de dólares e foram alvo de arresto de bens e participações sociais em empresas, em dezembro do ano passado, por determinação do Tribunal Provincial de Luanda.