A cineasta francesa Agnès Varda faleceu esta madrugada, aos 90 anos, informaram os familiares. A realizadora era considerada a pioneira do movimento “Nouvelle Vague”.
“A realizadora e artista Agnès Varda faleceu em casa na noite de quinta-feira, 29 de março de 2019, na sequência de um cancro”, afirmou a família num comunicado enviado à agência noticiosa France-Presse.
Multipremiada ao longo de uma carreira iniciada em 1954 com “La Pointe-Courte”, Varda nasceu em Bruxelas no dia 30 de maio de 1928, filha de pai grego e mãe francesa, mudando-se para Paris para estudar fotografia, segundo a biografia da France Culture.
Habitualmente classificada como a “avó” do movimento cinematográfico Nouvelle Vague, Varda destacou-se, poucos anos depois da sua estreia, com “Cléo de 5 à 7” (“Duas Horas na Vida de uma Mulher”, no título português).
Em 1985, venceu o Leão de Ouro em Veneza por “Sem Eira Nem Beira”, cinco anos antes da morte do seu marido – e também realizador – Jacques Demy.
O biográfico “As Praias de Agnès” vence o César de Melhor Documentário em 2009, oito anos depois de ser distinguida com um prémio honorário na cerimónia do melhor cinema francês.
Em 2014 recebeu o Leopardo de Honra do Festival de Locarno e no ano seguinte foi a primeira mulher a receber a Palma de Ouro de Carreira do Festival de Cinema de Cannes.
Em 2018, a Academia de Hollywood atribuiu-lhe um Óscar honorário, no mesmo ano em que foi nomeada pela primeira vez para aquelas distinções norte-americanas, com “Olhares Lugares”, documentário feito com o fotógrafo francês JR, parceiro de colaborações recentes.
Agnès Varda esteve várias vezes em Portugal, algumas das quais para mostrar e falar de cinema. Em 2016 foi distinguida pela Universidade Lusófona do Porto com um doutoramento ‘honoris causa’ e foi-lhe dedicado um ciclo no Rivoli – Teatro Municipal.
Na altura, Agnès Varda recordou a vez em que visitou Portugal na década de 1950, enquanto fotógrafa, tendo atravessado a fronteira olhando para “uma paisagem desértica” que a fez sentir-se numa superfície lunar.
É dela uma fotografia icónica captada em 1956, de uma mulher vestida de preto, a caminhar descalça numa rua na Póvoa de Varzim, junto a uma parede com um cartaz rasgado de Sophia Loren.
“Portugal é um país do cinema para mim”, disse a realizadora, recordando nessa cerimónia no Porto os convites de José Marques Vieira para participar no festival de cinema da Figueira da Foz, as interações com o produtor Paulo Branco e o realizador Manoel de Oliveira, e o cinema de João Mário Grilo, Pedro Costa e João César Monteiro.
Em 2009, a Cinemateca Portuguesa dedicou-lhe uma retrospetiva e teve duas instalações-vídeo na Capela da Casa de Serralves, no Porto.
Nesse ano, então com 81 anos, Agnès Varda afirmou, num encontro com a imprensa portuguesa, que lhe interessava fazer pequenos filmes com a sua visão do mundo e que estivessem em diálogo com as artes plásticas.
Apesar do seu cinema ter uma marca documental, um carácter social e feminista, generoso e terno, a realizadora garantiu que o seu maior combate no cinema era “fazer sempre algo de novo”, sem perder o traço experimental, e transmitir emoções.
Lusa
Foto: FADEL SENNA / AFP