O presidente da Câmara de Miranda do Douro defendeu ontem que, apesar de o governo espanhol ter confirmado o abandono do projeto de exploração de urânio junto à fronteira portuguesa, é preciso estar alerta, porque “nada é definitivo”.
“Temos de estar atentos em relação ao futuro destes projetos de índole nuclear junto à fronteira com Espanha”, afirmou à Lusa Artur Nunes.
O também vice-presidente da Associação de Município Ribeirinhos do Douro frisou que as informações disponíveis, em relação a exploração de urânio junto a zona raiana de Salamanca (Espanha), ainda são muito escassas.
“Apesar de o governo espanhol ter avançado com a informação do abandono de projeto de exploração de urânio junto a Portugal, nada é definitivo”, assegurou o autarca português.
Para Artur Nunes, estas decisões são sempre “muito complexas” e “minuciosas”, relativamente à avaliação ambiental e à instalação das unidades transformadoras.
“Espanha tem até 2021 para tomar uma decisão em relação à política nuclear para o seu país”, observou.
Contudo, o autarca manifestou que a confirmação de abandono da exploração de urânio junto à fronteira com Portugal é “uma boa notícia”.
O governo espanhol confirmou na segunda-feira o abandono do projeto da mina de urânio em Alameda de Gardón, em Salamanca, próximo da fronteira com Portugal, indicando que a empresa promotora não apresentou a documentação necessária para avançar.
Em causa está uma resposta dada na segunda-feira pelo executivo espanhol ao senador Carles Mulet, indicando que “o Ministério para a Transição Ecológica não recebeu nem o estudo de impacto ambiental, nem o arquivo de informações públicas para o início da fase ordinária de avaliação ambiental”.
Ao governo espanhol não chegaram, também, os resultados da consulta pública realizada, acrescenta o executivo na resposta, citada pela agência noticiosa Efe.
A plataforma Stop Urânio já reagiu à informação, notando que, apesar do abandono do projeto, esta mina de urânio continua a ser usada como “um chamariz” para a empresa promotora, a Barkeley, criticando a posição dos governos central e regional.
“Em 2016 desencadeámos a situação que se vivia nos territórios fronteiriços de Portugal e Espanha, em relação ao projeto de exploração de urânio da empresa Berkeley, junto a Retortillo, e manifestámos as preocupações ambientais em torno de um projeto desta natureza nas proximidades da bacia hidrográfica do rio Douro”, enfatizou.
Em junho de 2016, os habitantes de Boada, na província de Salamanca, fizeram soar o alarme e pediram aos portugueses residentes em zonas fronteiriças próximas que os ajudassem a combater um projeto de exploração de urânio previsto para o território de Retortillo/Villavieja.
A zona raiana em questão está incluída na Rede Natural 2000 e muito próxima de uma das portas de entrada do Parque Natural do Douro Internacional, o que colocaria em causa, na opinião dos ambientalistas portugueses e espanhóis, todo um ecossistema e a sua qualidade ambiental ao nível do ar e da água.
O projeto “Salamanca”, da empresa Berkeley, previa um investimento total de 250 milhões de euros, a criação de 450 postos de trabalho diretos e 2.000 indiretos, estando o começo da produção previsto para 2019.
Por seu lado, a Agência Portuguesa do Ambiente considerou que o projeto de exploração mineira de urânio em Retortillo é “suscetível de ter efeitos ambientais significativos em Portugal”, pela proximidade com a fronteira e tendo em “atenção a direção dos ventos”, de este e nordeste.