Um velho cortiço, que albergou milhares de abelhas durante anos, pode ser máscara por um dia na corrida do Entrudo da Serra da Lousã, que se realiza no dia 15, domingo, em aldeias do concelho de Góis.
Na sua casa de xisto da Aigra Nova, Manuel Claro, de 68 anos, molda uma máscara como se estivesse a produzir os cortiços tradicionais que preserva no seu apiário.
A banca de trabalho, as ferramentas e a matéria-prima servem para os dois fins.
“Fazer o cortiço é mais difícil do que fazer a máscara. O cortiço é para durar anos, já a máscara é só para aquele dia”, afirma à agência Lusa o antigo técnico de telecomunicações, enquanto talha a casca de sobreiro com desenvoltura.
Na sua opinião, “quem souber trabalhar a cortiça, sabe as voltas que lhe dar” para obter também o diabólico adereço de Carnaval.
Chova ou faça sol, povoações serranas em redor serão visitadas no dia 15 pela nona corrida do Entrudo, sendo esperados mais de 100 mascarados de todas as idades.
“Começámos há oito anos, por brincadeira, e temos conseguido que participem pessoas de fora, mesmo não tendo nada a ver com esta comunidade“, regozija-se o presidente da Lousitânea, Paulo Silva.
Recriar o Entrudo local da forma “mais genuína possível” é o principal objetivo da organização, que visa ainda “valorizar o património cultural da Serra da Lousã”, adianta.
Só que, segundo Paulo Silva, “a realidade já não é a mesma” e torna-se “muito difícil estar a fazer o que era antigamente“, pois as aldeias “não têm o mesmo nível populacional” que tinham há 50 anos.
“O objetivo é que cada folião seja criativo e construa a sua máscara. É essencial confundir as pessoas a quem estamos a cantar as quadras jocosas ou a fazer as patifarias”, sublinha Jorge Lucas.
Enquanto faz os olhos e coloca uns cornos de cabrito na sua máscara nova, o artesão Manuel, citando um adágio popular, vinca que “no Entrudo, vale tudo”. Mas a tradição já não como era.
“A verdade é que há pessoas que levam a mal” algumas brincadeiras, ao passo que outras acabam por dançar com os foliões, que soltam ao vento versos satíricos através de funis ou cabaças cortadas, conta Jorge Lucas.
“Nem a chuva, nem o vento nos param”, sorri, ao exibir uma das máscaras que a associação vende na loja da rede Aldeias do Xisto, na Aigra Nova.
Fonte e Foto: Lusa