O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse ontem que as cheias no Baixo Mondego são “um problema nacional” que exige soluções diferentes das do passado.
“Se o problema é maior, as soluções não são exatamente as mesmas do passado”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, em Formoselha, no concelho de Montemor-o-Velho, após ter visitado alguns dos locais mais atingidos pelas cheias da semana passada.
O Presidente destacou ainda o trabalho do poder local, que “esteve presente” na realização das ações mais urgentes para minimizar a devastação causada pela subida das águas do rio Mondego, e considerou que também “o Governo percebeu a importância do que se passou”.
Nas suas deslocações pelas localidades e pelos campos do Baixo Mondego, alguns ainda submersos, o Presidente da República teve a companhia do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, e dos presidentes dos municípios de Montemor-o-Velho e Soure, Emílio Torrão e Mário Jorge Nunes, respetivamente, entre outros autarcas.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, as populações afetadas “estiveram solidárias” com as autarquias da região e seus representantes, enquanto o poder local, por sua vez, estando “mais próximo” dos cidadãos, respondeu às necessidades imediatas com os meios disponíveis.
A extensão dos danos provocados pelas cheias “agora é diferente”, disse, admitindo também que as populações “estão atualmente mais exigentes” do que nas últimas décadas, quando outros desastres naturais idênticos afetaram a região, antes e depois de iniciadas as obras do projeto hidroagrícola do Baixo Mondego, há cerca de 40 anos.
“Isso é a democracia. A exigência subiu no tempo”, sublinhou o Presidente da República, que, nas paragens em diferentes localidades, ao longo da tarde inteira, procurou ouvir os populares, confortando-os com palavras, beijos e abraços.
Em Formoselha, foi abordado por José Pimentel, um bancário residente nesta povoação da freguesia de Santo Varão, concelho de Montemor-o-Velho.
Emocionado, este bancário de 64 anos disse a Marcelo Rebelo de Sousa que “já tinha perdido tudo” nas cheias de 2011.
Pela segunda vez, em menos de 20 anos, “fiquei agora sem nada novamente, isto é triste”, afirmou.
Para José Pimentel, “é preciso instalar duas bombas junto à estação ferroviária de Alfarelos”, na Linha do Norte, a fazer a trasfega de água do rio Ega para o Mondego.
“É igualmente necessário proceder ao desassoreamento do Ega”, que está congestionado com inertes, corroborou António Lopes Marques, de 79 anos.
Este antigo trabalhador ferroviário confirmou à agência Lusa que aquele afluente do Mondego “está assoreado e há muito a precisar de limpeza” do leito.
Na sequência da passagem das depressões Elsa e Fabien, Marcelo Rebelo de Sousa divulgou uma nota a dar conta de que estava a acompanhar a situação do mau tempo em Portugal, em particular no Baixo Mondego, onde a rutura de dois diques provocou cheias, e prometeu deslocar-se àquela região.
Na véspera de Natal, anunciou que iria fazer hoje essa visita, declarando: “Vou observar, vou ver e vou contactar com a realidade, conforme prometi, no tempo adequado, que é estabilizada a situação e não durante o período crítico — exatamente o mesmo que adotei em relação aos incêndios. Entendo que ganho em perceber o que se passou e aquilo que está a ser pensado”.
Os efeitos do mau tempo provocaram três mortos e deixaram 144 pessoas desalojadas e outras 352 deslocadas por precaução, registando-se mais de 11.600 ocorrências, na maioria inundações e quedas de árvores.
O mau tempo, provocado pela depressão Elsa, entre os dias 18 e 20, a que se juntou no dia 21 a depressão Fabien, provocou também condicionamentos na circulação rodoviária e ferroviária, bem como danos na rede elétrica, afetando a distribuição de energia a milhares de pessoas, em especial na região Centro.
Lusa / Madremedia