Mais de três milhões de portugueses foram ao hospital com falsas urgências

Em 12 unidades de saúde, os casos não urgentes representam 40% das idas às urgências e em oito a percentagem sobe aos 50%.

No primeiro semestre deste ano, 3,2 milhões de portugueses dirigiram-se ao hospital com casos considerados pouco urgentes. Mais 134 mil do que em igual período de 2015.

Os dados são da Administração Central do Sistema de Saúde e são divulgados esta quinta-feira pelo “Diário de Notícias”. Diz o jornal que as pulseiras verdes, azuis e brancas, consideradas não urgentes, atingiram quase 50% do total em Lisboa – o valor mais alto das cinco regiões do país.

Dos 13 hospitais da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa, cinco viram aumentado o número das falsas urgências. Entre eles estão o Centro Hospitalar de Lisboa Norte de Loures e o Garcia de Orta.

A Grande Lisboa é o caso mais flagrante, mas o recurso ao hospital com casos não urgentes aumentou em 22 hospitais do país.

No Norte, a situação é menos acentuada, mas não está livre de problemas: três unidades de saúde integram o “top 8” das pulseiras verdes, azuis e brancas. São elas o caso do Centro Hospitalar Póvoa do Varzim, Santa Maria Maior e Hospital Senhora da Oliveira.

Em resposta ao DN, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) lembra que Portugal é um dos países da OCDE com maior volume de urgências, por questões conjunturais e estruturais “que implicam a implementação de medidas que produzem efeito a médio/longo prazo”.

Défice de médicos de família pode explicar aumento

O facto de 20% da população lisboeta não ter médico de família pode explicar o recurso ao hospital com casos não considerados urgentes. Quem o diz é o presidente da Associação dos Médicos de Família, em declarações ao “Diário de Notícias”.

Rui Nogueira diz ainda que faltam 400 médicos na área de Lisboa e Vale do Tejo. “A entrada de mais de 200 novos médicos de família ao nível nacional terá impacto, embora seja de esperar maior influência nos resultados de 2017″, refere.

Também a ACSS considera que o aumento de médicos de família, com o regresso de reformados e a contratação de novos especialistas em Julho, irá “aumentar a cobertura em cerca de mais 500 mil utentes”.

No seu entender, melhorar a valorização da Linha Saúde 24 também poderá ajudar a diminuir o recurso ao hospital.

O bastonário da Ordem dos Médicos critica, por seu lado, falar-se em falsas urgências, pois coloca o ónus no doente. “É abusivo e culpar os doentes”, afirma José Manuel Silva, dado que “as pessoas não têm capacidade para avaliar a sua situação”.

É “a triagem de Manchester que define prioridades e não urgências”, sublinha.

rr.sapo.pt